Há décadas, pesquisadores sugerem que a maneira como as pessoas vivenciam a felicidade ao longo de suas vidas aparece como uma curva em formato de “U”. Ou seja, os ápices de alegria são dois: na juventude e na velhice, após as pessoas se recuperarem de uma queda brusca na meia-idade.
No entanto, um projeto recente aponta que, atualmente, os jovens adultos não são tão felizes quanto costumavam ser — e que tal curva está começando a se achatar. Esse padrão pôde ser observado em mais de uma ocasião nos levantamentos produzidos pelo Estudo Global Flourishing, uma colaboração entre as Universidades de Harvard e Baylor, nos Estados Unidos. A coletânea, publicada nesta quarta-feira (30) na revista Nature Mental Health, conta com mais de 30 artigos centrados na temática.
Os dados utilizados pelos autores foram coletados durante 2023 e derivam de pesquisas autorrelatadas com mais de 200 mil entrevistados voluntários, espalhados em mais de 20 países. Com isso, constatou-se que, em média, jovens adultos entre 18 e 29 anos enfrentavam graves dificuldades também com sua saúde física e mental.
As percepções sobre o próprio caráter, a busca por um sentido na vida, o esforço para manter a qualidade de seus relacionamentos e a preocupação com a segurança financeira são alguns dos elementos que os investigadores utilizaram para determinar o grau em que cada participante estava “florescendo”. O conceito se refere a um estado no qual todos os aspectos da vida são julgados como bons.
Bem-estar dos jovens
O estudo indicou, na maioria dos participantes, índices relativamente baixos de desenvolvimento, em média, até os 50 anos. Esse foi o caso em vários países, incluindo no Brasil. “É um quadro bastante sombrio”, diz Tyler VanderWeele, principal autor do estudo, ao jornal The New York Times. “Nossas descobertas levantam uma questão importante sobre estarmos ou não investindo o suficiente no bem-estar dos jovens”.
A juventude é considerada há muito tempo uma fase despreocupada, um período de oportunidades ilimitadas e poucas obrigações. Mas dados do estudo e de outras fontes sugerem que, para muitas pessoas, essa noção é mais fantasia do que realidade. Em uma pesquisa de Harvard, por exemplo, jovens adultos de 18 a 25 anos nos EUA relataram o dobro de taxas de ansiedade e depressão na adolescência.
Além disso, o perfeccionismo disparou entre estudantes universitários, que frequentemente relatam sentir pressão para atender a expectativas irreais. A participação em organizações comunitárias, clubes e grupos religiosos também caiu, e a solidão está se tornando tão prevalente quanto entre os adultos mais velhos.
Tendência global
Nem todos os países viram o “florescimento” aumentar com a idade. Em algumas regiões, como a Polônia e a Tanzânia, esse aspecto, na verdade, diminuiu com o envelhecimento. Já outros países, como o Japão e o Quênia, apresentaram o padrão mais tradicional em forma de “U”, com pico do “florescimento” na juventude e na velhice.
Apesar disso, na maior parte do mundo, sobretudo no ocidente, os jovens adultos não parecem estar prosperando. Há várias teorias sobre o motivo por trás disso, e uma das principais suspeitas é que eles estão deixando de fazer atividades importantes para o bem-estar em detrimento de horas olhando para as telas.
Mais pesquisas ainda são necessárias para se chegar a ideias de solução para tal tendência. Nesse sentido, o Estudo Global Flourishing continuará coletando dados anualmente até 2027 e tentará descobrir as razões por trás desse fenômeno.
(Fonte:G1/Arthur Almeida-Revista Galileu)
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