Peixe-leão avança na Bahia e ameaça fauna marinha local

O peixe-leão, espécie invasora na Baía de Todos-os-Santos e ameaça à fauna marinha local, mostrou a “cara” em Salvador, no último sábado, no Porto da Barra. O animal com espinhos venenosos, capacidade de comer 20 peixes a cada meia hora e se proliferar rapidamente ao depositar uma média de 12 mil ovos, pode gerar perda de biodiversidade local, conforme pesquisadores. Esse é o segundo da espécie achado no estado. Agora, os estudos são para entender como controlar a presença do invasor, seu impacto para a fauna local e se é seguro seu consumo alimentar.Enquanto dava sua aula de mergulho, o pesquisador marinho e mergulhador Robson Oliveira, se deparou com o animal há 12 metros de profundidade e como já o conhecia, evitou o contato. Ele fez o registro do animal, voltou para a terra, e foi então capturar o peixe, com equipamento adequado – um jereré, equipamento de pesca composto por rede e bastão para evitar contato direto.Robson entregou o animal para a Universidade Federal da Bahia (Ufba) e reforça que é importante evitar o contato com o peixe. “São quase 25 anos mergulhando então a gente já conhece um pouco. Busquem evitar o máximo contato possível com esse animal e informem as autoridades adequadas se os encontrarem”, afirma o mergulhador. O outro espécime encontrado na Bahia foi em Morro de São Paulo, em fevereiro deste ano.Por conta do peixe-leão ficar próximo a recifes, bem colado a pedras, muito dificilmente ele vai causar incidentes com humanos, indica o pesquisador Rodrigo Maia Nogueira, do Laboratório de Oceanografia Biológica (LOB) da Ufba. Em caso de contato com o peixe, seja porque pisou ou machucou a mão, basta buscar socorro e informar que foi um peixe-leão ou um peixe-pedra – que já é mais conhecido e o tratamento é o mesmo para ambos.

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No caso de avistamentos, a recomendação é para informar o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou o Instituto Do Meio Ambiente E Recursos Hídricos (Inema). Além disso, doações desses animais para a UFBA também são incentivadas, diz Rodrigo.Risco ambientalOriundo da região do Indo-Pacífico, o que torna o peixe-leão um grande perigo em nossas águas é que ele é um invasor e predador potente. Ou seja, não é reconhecido pelos predadores que já existem aqui, que até se alimentam dele, mas dão preferência para a dieta que já conhecem; por outro lado, as presas ainda não o identificam como um perigo, o que é uma grande vantagem na natureza.Somado a isso, o invasor tem uma capacidade de reprodução alta, que dependendo de sua idade ou tamanho, chega a ser capaz de depositar uma média de 12 mil ovos por mês, que são largados na correnteza e como demoram em média 26 dias para eclodir são levados para outros locais. Ainda que muitos sejam consumidos ao longo da cadeia alimentar, a alta quantidade de ovos garante algum sucesso.O Caribe é um dos precedentes para a Bahia do que ocorre quando o peixe-leão chega a uma região, que não é a sua natural: perda de biodiversidade. Por essa união de fatores, há risco de que o animal cause desequilíbrio na nossa fauna marítima, como explica o pesquisador Rodrigo Maia Nogueira, do Laboratório de Oceanografia Biológica da Ufba.“Ele tende a ficar abundante, a aparecer vários deles no recife, com uma predação forte de peixes menores que ele, o que gera um desequilíbrio. Porque esses peixes estão na base da cadeia alimentar de outros, ou tem funções variadas, como peixes limpadores, peixes herbívoros, que controlam as algas e ajudam os corais, então a presença do peixe-leão causa um desequilíbrio”, diz.Por conta das características do animal podemos ter certeza de que existem outros na Bahia, argumenta o pesquisador do LOB. “Você só costuma ver uma espécie invasora quando ela já invadiu. Todos os animais capturados e observados por enquanto tinham essa faixa de 15 centímetros, que indica mais ou menos um ano e meio de vida. Então ele estava aqui e a gente não tinha visto, não tinha tamanho para chamar atenção. Ou talvez estava em uma área mais funda e agora ele chegou no local onde vai habitar, mas já estava aqui. É um animal que não se desloca muito”, explica Rodrigo.Potencializador de contaminaçãoMesmo com veneno nos espinhos, o peixe-leão é consumido no Caribe – ele não possui veneno em sua carne -, de acordo com o pesquisador da UFBA. Porém, ainda há pesquisas para determinar se ele é adequado para consumo, porque como predador ele é bioacumulador, ou seja, os contaminantes que ele absorve se acumulam e são maximizados. Por exemplo, se ele comer dois peixes contaminados, seu metabolismo vai potencializar essa contaminação, o que pode ser um risco para quem o consumir.Os estudos agora são para entender como vai ser a invasão desse animal aqui e compreender qual é a segurança de consumo desse peixe – que é uma pergunta que vem sendo feita aos pesquisadores. Outras investigações incluem descobrir de onde vêm esses animais que se encontram aqui, se são do Caribe (principal teoria) ou se foram depositados de algum aquário, e analisar seu estômago para saber do que estão se alimentando e quais peixes da fauna local irão sofrer mais com isso, ou porque estão sendo comidos, ou porque estão perdendo suas presas. Além disso, o pesquisador ressalta a importância de medidas de controle para o peixe-leão.

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