O Olodum vai celebrar seus 46 anos com uma programação especial no Pelourinho que une música, memória e cinema. Um dos destaques é o lançamento do curta-metragem Olódùmarè, o Ser Supremo – Raízes e Origens, que transforma o tema do Carnaval 2025 do bloco em uma obra audiovisual que mergulha na origem da humanidade sob a perspectiva iorubá. A estreia é hoje, às 19h, na Casa do Olodum.Dirigido por Dody Só, Olódùmarè foi rodado no Parque São Bartolomeu, e tem no elenco Clarindo Silva (Olódùmarè), Rai Alves (Oxalá), Negra Jhô (Olokum) e Clyde Morgan (Agemo). O curta retrata o mito da criação a partir do sopro divino de Olódùmarè e os desafios enfrentados por Oxalá na formação do mundo.Na mitologia Iorubá, no início dos tempos não havia separação entre o plano espiritual e o plano material, o mundo dos homens. Mas por uma transgressão dos homens, Olódùmarè separou os dois mundos com seu sopro divino e a missão de moldar o Àiyé (a Terra) coube a Oxalá. A jornada de Oxalá é marcada por desafios e ele perde o saco da criação para Oduduwa (Iran Costa), que assume a tarefa de dar forma ao mundo.Dody Só comentou que a ideia partiu de uma proposta feita por Marcelo Gentil, presidente do Olodum, de adaptar o tema do Carnaval 2025 em um curta. “Aceitei na hora, porque adoro desafios. A partir do texto que ele me entregou, criei o roteiro e decidimos, junto com a produção do Olodum, realizar esse filme. O maior desafio foi aproximar o público dessa narrativa mítica e, ao mesmo tempo, identificar quem daria vida a essas figuras tão simbólicas”, contou.Além de homenagear a espiritualidade africana, o curta também convida à reflexão sobre o papel do mito na formação da identidade afro-brasileira. “Durante muito tempo nos disseram que só existia uma teologia válida. Mas o sopro da vida está em todas as culturas. Cada povo tem sua origem, sua divindade e o sopro é esse enigma eterno: de onde viemos, quem somos, para onde vamos. E é esse sopro que o filme tenta representar. O Olodum também trabalha com isso, com essa conexão através da música, da espiritualidade, da força da ancestralidade”, afirmou Dody.Tudo juntoSegundo Dody, o filme transita entre o sagrado e o festivo, refletindo a essência do próprio Olodum: “A gente tenta separar o sagrado do profano, mas o ser humano é tudo isso ao mesmo tempo, o sagrado e o festivo sempre caminham juntos. Temos essa dualidade, e às vezes até uma tridimensionalidade”, disse.“O tema do Carnaval é de um bloco afro, que tem resistência e que, ao longo dos anos, mostra a beleza da negritude – do homem, da mulher negra, do ser humano como um todo. Queríamos mostrar a luta por liberdade, igualdade. O Olodum, com sua música, dança e o poder do tambor, mostra que é possível incluir a todos. Assim, mostramos o sagrado – sem esquecer do toque do tambor, do povo nas ruas, celebrando Olodum e Olodumaré”, acrescentou.Uma das cenas de destaque do filme é a dança ritual entre Olokum e Agemo, apontada como um dos momentos mais impactantes. Coreografada com maestria por Clyde Morgan, a sequência representa a humildade diante do poder criador, mostrando Olokun (deusa que veste todos os orixás) e Agemo (o camaleão), próximo de Olodumare. Na cosmogonia, Olokun começa a se achar maior que o criador, Olodumare então envia Agemo para mostrar-lhe a verdade. Ela entrega as roupas a Agemo, que, por ser camaleão, consegue replicar todas as cores e ela então reconhece: “Se você é assim, imagine o poder de Olodumare”.“Essa dança simboliza humildade, reencontro, e foi coreografada com beleza no Parque São Bartolomeu. Clyde Morgan, aos 85 anos, dançou com uma elegância inacreditável. Foi emocionante”, relembra o diretor.A estreia do filme marca o início das comemorações dos 46 anos do Olodum. A sessão conta com falas de Marcelo Gentil, Dody Só e Jorge Ricardo, que vai falar sobre o tema do Carnaval 2026. Após a exibição, haverá uma rodada de perguntas com o elenco e a equipe, aberta ao público.Além do lançamento, a programação de aniversário se estende até domingo (27), com o Ensaio de Aniversário na Praça das Artes, às 14h.Lançamento do curta-metragem “Olódùmarè, o Ser Supremo” / Hoje, 19h / Casa do Olodum (R. Maciel de Baixo, 22 – Pelourinho) / Gratuito*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
Lançamento do curta ‘Olódùmarè’ abre festejos do aniversário do Olodum
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