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A combinação domingueira entre o churrasco e o chimarrão ganhou uma data especial. No dia 24 de abril, celebra-se oficialmente essa dupla tradição da culinária gaúcha. Não se trata apenas de carne na brasa e bebida quente na cuia, é a identidade do povo sul-brasileiro, carregada de simbolismo social. Um grupo de pessoas ou de familiares reunidos em torno da churrasqueira ou da cuia compartilha sentimentos de união, respeito e celebração.
De origem guarani, o chimarrão é uma herança indígena incorporada pela tradição gaúcha e que se estendeu por todo o Paraná e Santa Catarina. O radialista e pesquisador da cultura sul-brasileira, Ernani Magnabosco, relata que o papel social da roda de chimarrão é significativo. “Imagine como era o convívio das pessoas há mais de cem anos. Não havia rádio ou televisão, as comunicações eram precárias. Então as conversas e as visitas ocorriam quando uma pessoa ia até a casa da outra para prosear. Aí surgia a roda de chimarrão”, pontua.
Seja sozinho ou acompanhado, o momento do chimarrão resulta em pertencimento cultural e conexão com o presente, ao ponto de ultrapassar gerações e obter continuidade. “Ele segue vivo, se adaptando aos tempos, mas sem perder a essência”, salienta o pesquisador.
Conforme evidencia Ernani, o payador e poeta Jaime Caetano Braun contempla a iguaria campeira em um poema: “nas combonas de tropas do pampa, nas chaleiras do esteio do povo, sem morrer tu nasceste de novo, nas garrafas guerreiro à tampa”. O radialista acrescenta que “esse trecho mostra como o chimarrão renasce. Antes, se aquecia a água numa cambona, uma chaleira de lata bem simples, usada nas lidas campeiras. Hoje, temos as garrafas térmicas. E ainda assim, o rito permanece o mesmo. A modernidade não apaga a tradição, ela apenas dá novas formas a ela”.
ERVA MATE– Além de seu valor simbólico e afetivo, o chimarrão também carrega uma profunda história econômica e social, especialmente no Paraná. O ciclo da erva-mate foi um dos mais marcantes do estado, explica o pesquisador. “No início, essa região Oeste era habitada apenas pelos povos indígenas. Foi com a concessão do governo, permitindo a entrada de argentinos nas matas da região, que se deu a abertura de picadas rumo ao interior. Esses caminhos levavam às chamadas ‘minas de erva-mate’, locais onde se encontravam grupos de três, quatro, cinco pés de erva-mate nativa. A erva era então colhida e levada à Argentina — antes mesmo da consolidação do país como nação independente”, salienta.
Ernani também evidencia a importância desse ciclo para a formação do estado. “O ciclo da erva-mate foi o mais importante entre todos os ciclos econômicos que marcaram o Paraná. Ele trouxe riqueza, trabalho e estrutura. Os que atuavam com a produção e comercialização do mate, chamados barões da erva-mate, acumulavam poder e influência. A exportação da erva gerou muito dinheiro para o estado. Tamanha era a força desse ciclo que os barões da erva-mate foram decisivos para que o Paraná deixasse de ser uma província subordinada a São Paulo e se tornasse um estado autônomo”.
Outra curiosidade compartilhada por Ernani, está nas origens da Universidade Federal do Paraná. “No início, era conhecida como a ‘universidade da erva-mate’ ou até ‘universidade dos barões da erva’, pois foi financiada, em grande parte, com recursos oriundos da riqueza gerada por esse ciclo, especialmente na região de Curitiba. Para nós, paranaenses, o ciclo da erva-mate foi duradouro, forte e extremamente benéfico. Ele moldou parte da nossa identidade e do nosso desenvolvimento”, finaliza.
Da Redação
TOLEDO
O post Tradição que molda cultura: churrasco e chimarrão apareceu primeiro em Jornal do Oeste.