Dorameiras de Marabá: laços criados através da cultura pop asiática

Uma comunidade, majoritariamente feminina, que se apoia e acolhe todas – e todos – que a buscarem para compartilhar a mesma paixão: os doramas. Essa é a essência da ‘Doramei Marabá’. Com mais de 1.600 seguidores no Instagram e cerca de 300 membros no WhatsApp, o grupo promove reuniões e eventos, mas, acima de tudo, enaltece seus vínculos de amizade.

Doramas são séries de televisão originárias da Ásia, especialmente da Coreia do Sul. Apesar de sua origem e popularidade inicial, hoje têm uma audiência global, com fãs em diversos países. Quem se encanta por esse tipo de produção costuma ter preferência por enredos que misturam romance, comédia, drama, ação e até elementos fantásticos. Pessoas como Naiana Gabriela Martins Gomes, 29 anos, criadora do ‘Doramei Marabá’.

Naiana fundou o doramei na expectativa de criar uma comunidade acolhedora e unida

Em entrevista ao Correio de Carajás durante um dos eventos do grupo, a jovem contou que embarcou em uma paixão avassaladora pela cultura pop asiática ainda na adolescência. O primeiro capítulo dessa história estreou quando ela assistiu ao dorama ‘Enquanto Você Dormia’, em 2017.

“Me apaixonei pelo ator, pela história, foi ali que tudo começou de verdade”, conta, sorrindo.

Naiana trabalha com artesanato, mas encara o ‘Doramei’ como sua principal missão de vida. Com o grupo, ela foi além de criar uma comunidade que se reúne por um interesse em comum, construiu um espaço seguro para que mulheres de todas as idades sejam bem-vindas e acolhidas para expressarem seus gostos e vivenciarem suas paixões sem julgamentos.

O grupo é aberto para crianças, jovens e adultos

“Teve um momento da minha vida em que eu me senti deslocada e pensei: por que não criar um grupo onde todo mundo goste das mesmas coisas e se sinta unido?”, desabafa.

Em uma sociedade que julga os gostos de mulheres adultas – e com frequência os taxa como infantis –, grupos como o ‘Doramei’ hasteiam a bandeira da resistência e da força feminina, ainda que muitas vezes não se deem conta disso. Nesse enredo, uma característica marcante dos doramas é a carga emocional intensa dos episódios, que frequentemente exploram temas como gentileza, superação, amizade, amor e conflitos familiares. Temas que cativam as marabaenses dessa comunidade.

“Assistindo ‘Thirty Nine’, me emocionei com o vínculo entre três amigas que seguem juntas, mesmo diante da morte. Isso me marcou. A gente é passageiro nesse mundo, mas pode deixar afeto, carinho, escuta”. É esse espírito que ela tenta perpetuar nos encontros do grupo, sempre receptiva a quem está chegando.

PARA TODAS AS IDADES

Boa parte dos doramas possui classificação livre, ou seja, são seguros para pessoas de todas as idades. Em muitos deles, a história de romance é construída lentamente, as cenas de interação do casal são puras e até os beijos exalam inocência. Com essas características, os doramas ganham fãs de diferentes gerações.

Com apenas 11 anos, Ercílya Lavinne da Costa já carrega no peito um amor profundo por histórias que misturam romance, drama, terror e emoção. “Comecei a assistir com a minha mãe quando eu tinha 8 anos. Ela gostava muito, e aí eu fui gostando também. Virou tipo minha série favorita”, conta com um sorriso amplo e os olhos brilhando de empolgação.

Com apenas 11 anos, Ercílya é uma pequena dorameira

A conexão com os personagens vai além da tela. Sensível, Ercílya absorve cada cena como se estivesse presente na história. “Eu reajo junto com a série. Se algum personagem chora, eu choro junto. Se algum personagem morre, eu choro também”, confessa. Apesar da pouca idade, ela se entrega às emoções de uma maneira que muitos adultos têm dificuldade de demonstrar e vive os doramas com uma naturalidade desconcertante.

Em contraste com Ercílya está Jodaíra Alves dos Santos, de 40 anos. Foi por acaso que ela deu ‘play’ no universo dos doramas, mas o encantamento foi imediato, e ela se converteu em uma verdadeira dorameira. Assistente social e apaixonada por narrativas sensíveis, Jodaíra descobriu o gênero em 2020, influenciada por uma amiga de São Geraldo do Araguaia.

Jodaíra viu no ‘Doramei Marabá’ uma oportunidade de compartilhar sua paixão por doramas com outras pessoas

Mas foi só em 2022 que ela foi arrebatada por completo. “Vi uma série na Netflix, comecei a acompanhar a história, me apaixonei pelos atores e não parei mais”, declara com fervor. Seu primeiro dorama foi ‘O Rei de Porcelana’ e, para ela, as histórias vão muito além do entretenimento, são uma companhia afetuosa que a lembram de que o amor pode ser delicado, persistente e transformador.

Foi através do Instagram que ela conheceu o ‘Doramei Marabá’ e logo ingressou na comunidade. “Vi o grupo por um acaso, ele chamou minha atenção, fui seguir no Instagram e me envolvi”, compartilha.

E, assim como a pequena Ercílya e a experiente Jodaíra, Sara Daniele Batista do Nascimento, de 22 anos, encontra no coletivo aquilo que sempre buscou nos doramas: pertencimento, conexão e histórias que aquecem o coração. Em cada nova série, em cada novo encontro, as dorameiras revivem a beleza de se apaixonar, seja por personagens, por pessoas ou por novas possibilidades.

Sara é estudante de Letras Português e conheceu as séries asiáticas em 2018, por indicação de uma amiga que mora em Itupiranga. De lá para cá, a jovem se viu enredada pela estética, leveza e pureza dessas histórias.

Sara gosta dos romances puros e que emocionam

Ela compartilha com a reportagem que já assistiu cerca de 30 doramas – número considerado baixo pela comunidade – e afirma que pretende expandir seu catálogo. “Eu analiso tudo. Amo a arte, amo as mensagens que os doramas trazem. Às vezes é uma história de superação, uma doença vencida, um amor que salva. Isso me toca muito”, revela. A paixão pelas trilhas sonoras, pelas construções dos personagens e pelo romantismo mais puro e delicado são alguns dos elementos que a mantêm conectada com esse universo.

Assim como Naiana, Ercílya, Jodaíra e Sara, dezenas de mulheres marabaenses encontraram no ‘Doramei’ um refúgio onde fortalecem sua apreciação por doramas e também encontram sororidade e acolhimento. O que as uniu nesse mundo não foi apenas o acaso, mas uma espécie de roteiro doce e sutil, que conta inúmeras histórias em um mesmo plano-sequência.

(Luciana Araújo)

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