A equipe do documentário Jornada das Folhas
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Há alguns anos, as histórias de Diu e de outras mulheres da comunidade de Oiteiro, em Simões Filho, chamou a atenção de um jovem vizinho, Tailson Souza, que à época era estudante de jornalismo. O universitário conversou com a sua professora de Técnicas de Imagem e Direção e de Oficina de Sonorização, a cineasta Ravena Melo, que comprou a ideia de fazer um filme sobre as mulheres.Juntamente com o também cineasta Emerson Kilendo, a dupla produziu o documentário Jornada das Folhas, um retrato da presença feminina em uma atividade fundamental para a cultura afro-baiana.Muitas das catadoras sequer têm vínculos com o Candomblé, e algumas professam outras religiões. Somente em Oiteiro, há cerca de 20 mulheres que catam folhas, localmente e em outros municípios, e depois viajam a Salvador uma vez por semana para comercializá-las com os feirantes. Algumas das catadoras são menores de idade.”Eu cresci vendo essas mulheres subindo e descendo, catando folhas. E vi o desenvolvimento delas”, afirma Tailson, referindo-se ao fato de que através do comércio de folhas algumas delas ergueram casas, ainda fazem reformas e ampliações, e conseguem comprar móveis e alimentação.Mas o jornalista e produtor de cinema pondera que ainda há muito a conquistar. “É uma comunidade vulnerável, que tem suas necessidades. Elas não têm escolaridade completa e algumas delas sobrevivem há mais de 40 anos dessa colheita de folhas”, assinala Tailson.O jornalista destaca a predominância feminina na atividade. “Quase todo o trabalho é feito por mulheres. Pouquíssimos homens catam. É uma experiência maravilhosa. São histórias fantásticas que elas vão passando para a gente”, declara o produtor. Como o dia em que uma das catadoras foi mordida por uma cobra no mato, ficou desacordada por um tempo e não retornou para casa no final do dia.”A família a teve como desaparecida, porque ela não deu sinal de vida. Ela foi resgatada de helicóptero. Uma história muito forte”, conta Tailson. Um risco que as catadoras correm para vender uma porção de folha por menos de R$ 1.Muita vontadeA cineasta Ravena Melo escreveu o projeto do filme em 2022. No ano seguinte, o texto foi contemplado pelo edital da Lei Paulo Gustavo Bahia, para execução em 2024. “É um trabalho que nasce com muita vontade de que seja realizado. Eu o vislumbro há bastante tempo”, afirma Ravena.O processo de pesquisa para o projeto incluiu diversas idas da equipe de produção a Oiteiro. “Ao longo dessas visitas, a gente foi tendo experiências muito enriquecedoras. Tanto nos saberes sobre as folhas quanto a descobrir mesmo esse universo, que a gente imaginava de uma forma e à medida em que fez a pesquisa foi ganhando outros contornos”, diz a diretora.Nesse momento, a equipe está na fase de gravações, com cenas das catadoras no mato e também com as negociações com os feirantes. “Tem sido um aprendizado muito grande”, diz Ravena, acrescentando que as pessoas sempre ouvem falar das folhas do Candomblé, mas ninguém sabe de onde elas vêm.”Elas estão nesse ofício há muitos anos, e há muitos anos a gente tem essa relação com as folhas só pelos feirantes. A gente não vê quem está na base dessa cadeia econômica”, comenta a diretora.O filme Jornada das Folhas deve integrar a uma série chamada Economia do Sagrado, com outros três episódios ainda a serem escritos. Neles, devem ser abordados temas como roupas e acessórios usados no Candomblé, além do uso das palhas e do barro. O filme vai ser exibido, inicialmente, ao público na comunidade de Oiteiro. Mas ainda não há previsão de difusão na TV ou nos serviços de streaming.