A política entre rosas, espinhos e “rousiês”

Se há algo que a política tem em comum com certas tramas de romances polêmicos, é a hipocrisia das relações. Nos livros, a traição da nora com o sogro gera um escândalo familiar; na política, a traição de quem não consegue seu quinhão gera uma indignação seletiva. É sempre assim, enquanto os favores fluem, o discurso é de fidelidade absoluta. Mas basta um pedido negado, um cargo não concedido, uma expectativa frustrada, e eis que surge a reviravolta, o ressentido se torna um justiceiro de ocasião.

Se na literatura temos “Vernon Subutex” e “Desonra”, na política temos o eterno roteiro da ingratidão. Primeiro, vem a bajulação, os elogios rasgados, as promessas de lealdade inabalável. Depois, quando os anseios pessoais não são atendidos, o mesmo personagem se reinventa como um mártir traído, vociferando sua nova narrativa de perseguição. Antes, uma pessoa entusiasta do sistema; agora, uma paladina da moralidade (desde que seja conveniente).

E então surgem os blogs, os personagens fictícios, os ataques covardes nas sombras. O ex-amigo, a pessoa que se traveste de crítica feroz, armada de bombas fictícias e manchetes sensacionalistas. A política, que antes era um jardim de rosas, torna-se um emaranhado de espinhos e, claro, de “rousiês”, aquelas figuras que, de longe, parecem flores, mas de perto exalam o odor rançoso da vingança mal disfarçada.

A lição que fica? Quem se esconde na lama da covardia virtual não luta por ideais, luta por rancor. Não busca justiça, busca revanche. Mas, assim como na literatura, a verdade sempre se impõe e no final, esses personagens acabam do mesmo jeito: esquecidos, desacreditados e desmascarados pelo próprio veneno que destilaram.

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