Além da renda: estudo da UFRN mede pobreza em múltiplas dimensões

O nome parece complicado: Índice de Insuficiência Socioeconômica Multidimensional (IISM). Mas, na verdade, o índice foi a forma que professores e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) encontraram para traduzir números relativos à pobreza e desigualdade, em suas múltiplas dimensões. Para isso, o grupo montou um observatório.

Esse projeto de pesquisa montado há alguns anos para estudar pobreza e desigualdade, mas com o propósito de apresentar um conceito novo. A pobreza e a desigualdade são multidensionais, mas têm relações que dialogam entre si. Podemos juntar características dos dois fenômenos: a pobreza está associada à privação, à insuficiência de acesso a bens como dinheiro. Já a questão da desigualdade é entendida como a diferença entre rendimentos ou concentração desse rendimento, quando muito a literatura econômica também trata de patrimônio, riqueza, mas no nosso entendimento, que também é multidimensional, está ligada ao acesso ao mercado de trabalho, terra, bens materiais, além de outros questões como bens públicos e proteção social”, explica Cassiano Trovão, coordenador do Observatório ISM e professor do departamento e do programa de pós-graduação em Economia da UFRN.

No projeto, que é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), os pesquisadores monitoram seis indicadores: 1 renda e patrimônio; 2 trabalho; 3 Educação; 4 condições de habitação; 5 acesso a bens de consumo (como geladeira, televisão, computador); e 6 acesso a serviços de uso coletivo (como água, saneamento e eletricidade).

Fonte: elaborada pelos pesquisadores

Esse índice reflete a distância que separa algo de sua pior situação”, comenta Cassiano.

Utilizando esse índice, os estudantes já avaliaram o ISM e fizeram o comparativo entre beneficiários e não beneficiários do Programa Bolsa Família, a situação dos domicílios rurais e urbanos, um recorte de raça e a situação das capitais brasileiras.

Falta mão e financiamento, mas fazemos a pesquisa na medida do possível. É um projeto financiado pelo CNPQ e com bolsas de pesquisa da UFRN, com dados públicos e de livre acesso para a comunidade”, detalha o professor.

As pesquisas com análises dos índices de ISM estão publicadas na página do projeto, que é de acesso aberto.

A ISM de Natal

Um dos trabalhos que ainda será publicado na página do projeto traz a análise da ISM das capitais brasileiras. As nordestinas ficaram entre as mais mal posicionadas, com Natal entre as últimas capitais do ranking.

O índice reforça a discussão sobre desigualdade e pobreza sob o prisma regional. No ranking, as cidades sãi divididas em quatro extratos: de baixo nível de ISM, de médio a baixo, de médio a alto e de alto ISM. Entre 2016 e 2019 Natal teve um ISM de médio a alto, mas em 2022 ela perde mais uma posição e caiu para alto índice de ISM, assim como Teresina, Macapá, São Luís, Belém, Porto Velho, Maceió”, revela Cassiano.

Para o pesquisador da UFRN, o resultado aponta que a cidade e seus moradores enfrentam um grande desafio.

Precisamos avançar muito em várias dimensões, em acesso a bens públicos, na dimensão de renda e patrimônio, trabalho… são vários elementos que chamam atenção. As capitais sofrem com os mesmos problemas, são estruturais… como acesso a educação e bens públicos. Ainda que haja melhora, os problemas se perpetuam. Os desafios são heranças de um passado de formação econômica complexa. Em Natal, há estrutura produtiva pouco diversificada. A cidade precisa de elementos básicos para melhorar qualidade de vida para a população. Natal, quando atravessa a ponte, é uma cidade muito diferente”, sinaliza.

Para conhecer a página do projeto, CLIQUE AQUI.

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