A presença feminina no setor de Inovação e Tecnologia avança no Brasil, rompendo barreiras e ocupando espaços antes predominantemente masculinos. No Rio Grande do Norte, esse movimento é cada vez mais evidente: mulheres estão à frente de pelo menos um terço das startups associadas ao Parque Tecnológico Metrópole Digital (Metrópole Parque), da UFRN.
Mesmo representando apenas 39% das pessoas empregadas no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) no Brasil, o crescimento da participação de mulheres foi 1,5 pontos percentuais maior que a presença masculina nos últimos anos, segundo dados da Brasscom, Associação das Empresas de TIC e de Tecnologias Digitais, divulgados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
No RN, uma das startups lideradas exclusivamente por mulheres é a MicroCiclo, fundada pelas pesquisadoras Lucymara Lima, Marbella da Fonsêca, Carolina Minnicelli, Rita Silva-Portela e Kamilla Barbalho. A startup é incubada no Metrópole Parque, polo de inovação da UFRN, e atua com soluções para o tratamento de efluentes oleosos industriais.
Carolina Minnicelli conta que a empresa surgiu no final de 2019, no Laboratório de Biologia Molecular e Genômica (UFRN), por meio de um grupo de pesquisas sobre a microbiota de reservatórios de petróleo.
“Naquela ocasião, aconteceu o derramamento de óleo nas praias do Nordeste, e a gente percebeu que a gente podia tentar transformar a pesquisa em algo que fosse para o mercado e resolvesse problemas reais”, diz.
Logo no início, porém, a startup mudou seus rumos: “A gente percebeu que a demanda do tratamento do óleo era muito grande pela parte das indústrias, as indústrias de metalurgia, siderurgia, que geram grandes quantidades de efluentes oleosos e emulsões oleosas, que é uma mistura de água e óleo”.
Mulheres líderes
A bióloga Carolina Minnicelli celebra seu orgulho em trabalhar em um time 100% feminino, junto às colegas que inovam em um setor predominante masculino e em um ambiente acadêmico.

“Me orgulho não só porque ele é 100% feminino, mas porque ele é muito capaz. É um time muito dedicado, é um time muito perseverante, um grupo de sócias que se dedica muito a validar essa solução. E a gente passa por muitas dificuldades juntas, mas a gente conseguiu elaborar e inovar na gestão da startup, de forma que a startup vai crescendo de uma maneira orgânica”.
Segundo ela, toda a equipe se empenha em buscar soluções conjuntamente, não deixando ninguém com alguma sobrecarga.
“A ascensão das mulheres no setor da inovação é muito positiva, porque isso traz diversidade, traz um outro olhar, traz o olhar da empatia, e a inovação não se baseia somente na tecnologia. A inovação precisa ser na gestão, precisa ser na inclusão, então a gente inova, por exemplo, sabendo que nem todas as pessoas vão se adequar àquele formato de trabalho convencional, de uma empresa convencional, e que às vezes a gente precisa adaptar para conseguir executar de uma forma que fique bom para todos”, pontua.
Ainda segundo Minnicelli, muitas mulheres não conseguem se enxergar líderes. Por isso, é preciso uma mudança cultural, para que a presença feminina em espaços de liderança e inovação se fortaleça.
“Espero que a gente tenha mudanças culturais também, que permitam que a mulher ocupe esses lugares sem medo, sem nenhum receio de não ser bem vista, de achar que não está no lugar certo, de achar que não pode ser empresária e de achar que não pode trabalhar na novação”, destaca.
“Temos por volta de 3% das startups formadas exclusivamente por mulheres, mas a participação de modo geral feminina ainda é pequena comparada aos espaços que a gente pode ocupar, e eu espero que para que isso ocorra”.
Desafios persistem
Os desafios se impõem no caminho das mulheres que decidem inovar e se encaixar no mercado, entretanto. A MicroCiclo, por exemplo, enfrenta o desafio de tentar se inserir em um mercado que é majoritariamente masculino.
“As lideranças desse mercado das indústrias de metalurgia, siderurgia e petróleo são ocupadas em grande parte pelos homens. E, somado a isso, a gente tem o desafio de ser uma empresa acadêmica que está entrando no mercado. São desafios grandes, mas a gente tem recebido muito apoio, dos financiadores, da FINEP [Financiadora de Estudos e Projetos], e apoio da nossa incubadora, o Metrópole Parque, através de mentorias”.
Para ela, a rede de apoio é fundamental não só para as mulheres, mas especialmente para quem vem de um contexto de pesquisa e está tentando colocar algo no mercado. No caso da MicroCiclo, que é uma Spin-off acadêmica de base biotecnológica, o objetivo é “validar essa solução de reutilização dos efluentes oleosos industriais”.
Mulheres que empreendem
De acordo com o levantamento “Empreendedorismo Feminino no Rio Grande do Norte: Especial 08 de março”, realizado pelo Sebrae/RN, 10.298 novos pequenos negócios foram comandados por mulheres no RN em 2021.
Em 2024, esse número foi de 15.793, um crescimento de 53,35% em quatro anos. Já em janeiro de 2025, as potiguares abriram 4.061 novos pequenos negócios. Contudo, outros indicadores expõem os desafios que as empreendedoras enfrentam, como desigualdades de renda.
Os setores de serviços (44%) e comércio (45%) são os que mais concentram mulheres empreendedoras, ante uma baixa representatividade nos setores de construção civil (17%) e no agronegócio (31%), que são tradicionalmente dominados por homens.
As potiguares empreendedoras recebem proporcionalmente menos do que os homens, de acordo com o levantamento. Mulheres negras donas de negócios, por exemplo, possuem uma renda 28% menor que a dos homens negros, 49% inferior à das mulheres brancas e 61% menor que a dos homens brancos.
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Negócios liderados por mulheres crescem 53% no RN; desigualdade persiste
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