Será que Bolsonaro encolheu politicamente?

Jornalista Rodolfo Borges:

 

“Jair Bolsonaro (foto) convocou uma manifestação para o domingo, 16, para demonstrar força política. Ao contrário do que ocorreu no expressivo ato de 25 de fevereiro de 2024, na avenida Paulista, em São Paulo, ele não alcançou seu objetivo em Copacabana, no Rio de Janeiro.

Mais uma vez, o debate sobre a quantidade de pessoas na rua serve apenas para tentar contrapor a realidade.

Em 2024, quem questionava os números, que iam de 200 mil a 2 milhões de pessoas, queria diminuir a expressividade da mobilização.

Agora, é o contrário: são os apoiadores do ex-presidente que tentam projetar grandeza na discussão que vai de 18 mil a ‘mais de 400 mil’ pessoas.

O próprio Bolsonaro admitiu, em seu discurso diante dos apoiadores do ato pela anistia dos condenados pelo 8 de janeiro — e do ex-presidente por extensão —, que o protesto foi menor do que costumava ser.

“’A gente arrastava multidões pelo Brasil. Foi aqui no 7 de Setembro, tinha mais gente do que agora’, discursou o ex-presidente de cima do trio elétrico, de onde falaram também o pastor Silas Malafaia, promotor do evento, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que tinha discordado de Bolsonaro sobre o tom da manifestação.

É cedo, contudo, para cravar que Bolsonaro encolheu. O ato de Copacabana foi convocado de form desastrada, com uma tentativa exagerada de controlar a pauta, expondo de forma desnecessária um cálculo político que deu ares de oportunismo ao movimento.

Além disso, a última pesquisa Latam Pulse, do AtlasIntel, indicou uma melhora na popularidade de Bolsonaro desde janeiro, com avanço na aprpvação de 38% para 46%, e queda na desaprovação de 57% para 51%.

O ridículo slogan ‘Fora Lula 2026’ acabou abandonado junto com uma série de manifestações planejadas para o mesmo dia. Isso pode ter tirado apoio do movimento e animado menos gente a se dirigir a Copacabana, onde os organizadores sonharam, na origem, reunir 1 milhão de pessoas.

O constrangimento causado pelo baixo número de manifestantes de domingo deve ajudar a inflar, contudo, a próxima manifestação, marcada para a avenida Paulista, em 6 de abril. É de se esperar mais gente do que haveria sem o incentivo da frustração no Rio de Janeiro.

Mas, se o ato de 6 de abril de 2025 for muito menor do que o de 24 de fevereiro de 2024 na mesma avenida, a luta de Bolsonaro para manter o comando da direita brasileira mesmo sem perspectiva de poder até 2030 se enfraquecerá de forma considerável.

A quantidade de pessoas reunidas para protestos tem sua relevância nessa batalha por manter as rédeas da direita — e repete estratégia que acabou por tirar Lula da cadeia —, mas o mar de camisas da seleção brasileira sobre o asfalto conta apenas parte da história.

O esforço para controlar minuciosamente os movimentos de rua, que levou a atrito com aliados, foi um dos sinais de fraqueza mais eloquentes de Bolsonaro nas últimas semanas.

Outro sinal é o surgimento de candidaturas alternativas à direita, como a do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e a do sertanejo Gusttavo Lima, assim como as especulações sobre quem Bolsonaro indicará como seu herdeiro eleitoral caso não consiga reverter a inelegibilidade.

Na situação em que se encontra, prestes a ter a denúnci por golpe de Estado julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente não está em condição de demonstrar qualquer fraqueza. E foi isso que ocorreu em Copacabana, por mais que seus apoiadores não queiram reconhecer.”

 

 

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