No Mês da Mulher Clube de Leitura CCBB 2025 aborda transformações sociais via literatura

Igiaba Scego e Márcia Tiburi se encontram pela primeira vez no Brasil e levam vozes poderosas e plenas de lucidez para evento que completa quatro anos e se firma como um encontro internacional de leitura

“Minha casa é onde estou” e “Complexo de vira-lata” serão debatidos em 19/3

O Clube de Leitura CCBB 2025 traz, em sua primeira edição do ano, duas vozes femininas e feministas em uma homenagem ao Mês Internacional das Mulheres: a italo-somali Igiaba Scego, com seu texto forte e lírico sobre a condição humana de imigrante somali na Europa, e a romancista e filósofa Marcia Tiburi, para um diálogo com o público sobre suas obras. Marcia e Igiaba estarão juntas pela primeira vez no Brasil.

Com patrocínio do Banco do Brasil, Scego será a primeira convidada internacional deste ano, que trará nomes bastante diversos da literatura brasileira e mundial para a Biblioteca Banco do Brasil em encontros mensais. O público escolheu em votação aberta pelo instagram, os livros “Minha casa é onde estou” (Editora Nós), de Igiaba, e “Complexo de vira-lata” (Civilização Brasileira), de Marcia.

“Sempre fico surpresa com o quanto o público brasileiro ama “Minha casa é onde estou”, um livro que fala de lar, de família, de negritude, de colonialismo, mas também fala de Roma, muita Roma. E, para mim, é uma maravilha que Roma tenha alcançado tão fortemente os brasileiros. Isso me deixa feliz”, conta Igiaba, que se diz muito honrada por debater com Marcia Tiburi.

Para a autora, que gostaria de abordar como temas, as margens, a negritude e o feminismo, além de Brasil e Itália com seus emaranhados, há muito o que aprender com a filosofia. “Eu deveria dizer três países porque sou italiana e somali. E os meus dois países carregam sobre os ombros problemas diferentes, mas relacionados”, reforça.

Marcia Tiburi conta que “Complexo de vira-lata” foi publicado em 2021 no clima de pandemia e caos político e, que, embora tenha tido quatro reimpressões, ainda não foi lido como deveria. “Eu desejei explicar o funcionamento da humilhação como tecnologia de subjetivação. Minha pergunta, ao escrever esse livro, dizia respeito ao modo como a humilhação é utilizada no dia a dia criando a noção de seres superiores e inferiores”, conta.

Segundo Marcia, Nelson Rodrigues teve uma verdadeira iluminação ao falar sobre isso, embora hoje, diz, a questão siga sendo um problema entre nós em todas as instâncias sociais. “As pessoas continuam humilhando e se deixando humilhar. Espero que meu livro ajude a entender por quê”. Sobre estar com Igiaba, que assinou o prefácio de um dos livros de Marcia, publicado na Itália em 2020, é uma alegria: “Esse convite para o Clube é uma coincidência muito feliz”, diz.

O encontro acontece 19 de março de 2025, a partir das 17h30, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ). A entrada é gratuita e os ingressos ficam disponíveis a partir das 9h da manhã do dia do evento.


O Clube de Leitura CCBB completa quatro anos, reforçando a interface entre as artes por meio de palavras e se firma como evento internacional de leitura. Com mediação de Suzana Vargas, também curadora do evento, e do poeta Rámon Nunes Mello, a edição de 2025 do Clube de Leitura CCBB pretende trabalhar as relações da literatura com as outras artes: música, teatro, cinema. O objetivo, segundo Suzana, é levar o público leitor a perceber como a palavra rege quaisquer manifestações artísticas.

“Clássicos da literatura, autores contemporâneos, dramaturgos, escritores que expressam parte da alma brasileira, poetas do cotidiano estão programados para essa nova temporada. Com ela pensamos atingir um público mais amplo, diverso, bem como fazer com que os livros sejam compreendidos mais além de suas fronteiras escritas”, antecipa a curadora.

No ano em que a cidade do Rio de Janeiro recebe a nomeação de Capital Mundial do Livro, o Clube de Leitura CCBB, com patrocínio do Banco do Brasil, trará ao país outros escritores internacionais ao longo do ano nos seus encontros mensais, como mais uma forma de contribuir para a visibilidade da leitura como importante veículo de conhecimento e cidadania.

A Biblioteca Banco do Brasil, instalada no 5º andar do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro hoje disponibiliza mais de 250 mil títulos ao público frequentador, gratuitamente, e é uma das bibliotecas com maior extensão de funcionamento diário – das 9h às 20h, incluindo sábados, domingos e feriados. Em 2024, foram mais de 126 mil leitores atendidos. A iniciativa do Clube de Leitura CCBB, criado em 2022, tem se mostrado cada vez mais relevante para aproximar o público frequentador do CCBB das artes literárias, popularizando o tema, o tornando acessível e contribuindo para a reflexão sobre a importância da leitura no mundo contemporâneo”, afirma Sueli Voltarelli, Gerente Geral do CCBB Rio de Janeiro.

Os vídeos dos encontros ficarão disponíveis, na íntegra, no YouTube do Banco do Brasil. O projeto vai até dezembro de 2025 e os encontros presenciais são realizados na segunda quarta-feira de cada mês. Entre os autores já confirmados estão Ney Matogrosso, Marcelo Rubens Paiva, José Miguel Wisnik, Daniel Munduruku e Scholastique Mukasonga.

Sobre os livros:

“Complexo de vira-lata” foi escrito com linguagem acessível como um processo de busca pela verdade em tempos nos quais o manifesto ódio à verdade vem destruir as chances de se construir uma comunidade humana. Conciso, nasce na urgência de uma análise sobre a humilhação nacional, interiorizada pelas pessoas e institucionalizada em nível social e político por meio da colonização, que não é apenas coisa do passado.

“Minha casa é onde estou”: Três primos, com três diferentes cidadanias, tentam juntar as memórias de toda a família desenhando o mapa da sua cidade de origem, Mogadíscio. Quando Igiaba Scego, sentada àquela mesa, tem que desenhar o seu mapa pessoal, fica perplexa. Ela se dá conta de que não conhece a cidade onde sua família viveu antes de se mudar para a Itália. A sua Mogadíscio é Roma, cidade onde nasceu e cresceu. Por isso, àquele mapa familiar, ela junta os lugares da sua vida italiana. Através de seis estágios romanos, cada um dos quais correspondendo a uma parte de sua vida, a autora delineia uma topografia afetiva autobiográfica, que se torna, a um só tempo, o desenho de uma memória pessoal e coletiva. Se o livro de Igiaba Scego se assemelha a um mapa, é também porque nos leva à descoberta de um tesouro precioso: uma nova perspectiva sobre a condição humana de imigrante, que é a de todos nós. Em Minha casa é onde estou, a autora nos ajuda a nos deslocarmos do nosso lugar de origem, e assim desenvolvermos um novo olhar – geográfico, linguístico, psíquico, literário – para enxergar melhor o outro. Atualíssimo, o livro é uma espécie de antídoto para o ódio que se alastra pelo mundo contra aqueles que definimos como estranhos-estrangeiros, seja porque vêm de outro país, seja porque carregam em si traços que consideramos inferiores, apenas porque diferentes.


Sobre as convidadas:
Igiaba Scego – Filha de imigrantes somalianos, graduou-se em Línguas Estrangeiras na Universidade La Sapienza de Roma e doutorou-se em Pedagogia na Universidade de Roma Tre. Suas obras têm um forte enfoque no diálogo entre culturas e na dimensão da transculturalidade e das migrações. Em 2018, sua participação programação principal da Festa Literária Internacional de Paraty contribuiu para a difusão de sua obra no Brasil.
Marcia Tiburi – é escritora. Autora de diversos livros entre romances e ensaios. Marcia foi professora universitária por 30 anos e atualmente se dedica à literatura e as artes visuais. Marcia fez parte do elenco do programa de televisão Saia Justa, do canal por assinatura GNT de 2005 a 2010.


Sobre os mediadores
Suzana Vargas é poeta, ensaísta, escritora e professora e mestre em Teoria Literária pela UFRJ. Publicou 16 livros, entre os quais Caderno de Outono, finalista do prêmio Jabuti. Tem poemas traduzidos em países como Itália, Estados Unidos, Espanha, Alemanha e França. Fez a curadoria de importantes projetos literários para feiras e eventos nacionais e internacionais como as Bienais do Livro do Amazonas, do Rio de Janeiro e de São Paulo, a Primavera dos Livros, a campanha Paixão de Ler e os Encontros com a Literatura Latino-Americana do Centro Cultural do Banco do Brasil. Assina a coluna mensal “Escrever para Lembrar” no portal Publishnews – 2021. Há 29 anos criou e coordena o espaço de oficinas de criação literária Estação das Letras, único no país.
Ramón Nunes Mello é poeta, escritor e ativista dos direitos humanos. Autor dos livros Vinis mofados, Poemas tirados de notícias de jornal, Há um mar no fundo de cada sonho e A menina que queria ser árvore. Organizou Tente entender o que tente dizer: poesia + hiv / aids (2018), Ney Matogrosso, Vira-Lata de Raça – memórias (2018) e Escolhas, autobiografia intelectual de Heloisa Buarque de Hollanda. Poeta convidado do Rio Occupation London no Battersea Arts Centre (Londres, 2012) e da Festa Literária Internacional de Paraty (2016).

SERVIÇO:
Clube de Leitura CCBB 2025 – Igiaba Scego e Márcia Tiburi

Encontro presencial – 19 de março de 2025
Às 17h30
Evento Gratuito
Classificação indicativa: Livre
Ingressos disponíveis na bilheteria do CCBB ou pelo site a partir das 9h do dia do encontro.
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro.
Biblioteca Banco do Brasil – 5º andar
Contato: 21 3808-2020 | [email protected]
bb.com.br/cultura | x.com/ccbb_rj | facebook.com/ccbb.rj | instagram.com/ccbbrj

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