Bahia global: Panorama terá profissional do Sundance como jurada

O Panorama Internacional Coisa de Cinema vai acontecer entre os dias 2 e 9 de abril, em Salvador, no Cine Glauber Rocha e Sala Walter da Silveira, e em Cachoeira, no Cine Theatro Cachoeirano. O festival terá Ana Paula Souza no Júri da Competitiva Nacional. A brasileira morou fora do Brasil por um tempo e estudou teoria e crítica de cinema na faculdade. Foi o seu mestrado que a levou para os Estados Unidos. Enquanto estudava, ela fez estágios e trabalhou como voluntária em vários festivais, inclusive o Festival Sundance de Cinema, por alguns anos.Atualmente, Ana é gerente do departamento de programação e programadora na equipe de longas-metragens do Sundance, com foco em filmes de ficção para todas as seções do festival. Além disso, a profissional é Diretora de Programação no Festival de Cinema de Sun Valley e Produtora do Fórum do Festival Internacional de Curtas de Palm Springs.

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Ao Cineinsite Portal A TARDE, Ana falou sobre a sua participação no Panorama, Sundance, e demais festivais, além de outros assuntos que envolvem a sétima arte.A cineasta contou que já conhecia o Panorama através do trabalho do Claudio Marques e Marilia Hughes, coordenadores do evento. Ela pontuou que fazer parte de júris é algo muito importante “para nossa equipe de programadores do Sundance, pois é uma oportunidade de conectar com cineastas e públicos internacionais, e continuar fortalecendo laços com comunidades de cinema fora dos Estados Unidos”.

Nós sempre estamos buscando trabalhos novos e queremos ampliar nosso conhecimento de projetos que estejam sendo desenvolvidos para o futuro, pois nossas competições internacionais são elementos muito importantes do nosso programa.

Ana Paula Souza – programadora na equipe de longas-metragens de Sundance

Festivais na valorização do Cinema Independente

Cena do filme ‘Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá’

|  Foto: Divulgação

Ana Paula avaliou o papel de festivais como o Panorama na valorização e difusão do cinema independente. Segundo a profissional, esses eventos são essenciais para conectar um público amplo com o esse tipo de arte, “que é um cinema arriscado, comovente, promissor, e único, definido pela sua criatividade e liberdade artística”.“Hoje em dia, especialmente, a importância de festivais como este continua crescendo, pois há tantas opções de programação e meios diferentes de consumir cultura, que festivais são necessários para ajudar a destacar trabalhos distintos que estão procurando espectadores e providenciar o acesso ao público a estas histórias. As opções de distribuição de cinema independente continuam muito limitadas, e os festivais abrem possibilidades nessa área”, afirmou.Sobre os critérios que considera mais importantes ao avaliar um filme em festivais, Ana disse que sempre procura receber e entender a perspectiva do artista, e a visão criativa do filme. “Há tantas histórias que ainda não foram contadas, então ver algo distinto ou novo é sempre marcante. Em geral, no cinema independente, penso que a maneira em que a equipe artística utiliza os recursos que tem à sua disposição, e as ideias que conseguem comunicar e explorar através do filme, acabam sendo elementos importantes. No resto, considero a harmonia entre a linguagem visual e a história”, pontuou.Maior festival de cinema independente dos Estados Unidos, o Festival Sundance de Cinema foi fundado por Robert Redford com o intuito de ajudar novos cineastas. O evento costuma acontecer sempre no mês de janeiro, em Park City, Utah. De acordo com a profissional, o Sundance continua sendo um festival de descobrimento, ou seja, “existe uma linha de curadoria que foca muito em vozes artísticas novas e perspectivas de diretores que estejam apresentando suas obras primas”.A programadora detalhou que também busca “trabalhos de cineastas mais estabelecidos, então pra nós é importante atingir um equilíbrio entre os dois. Geralmente, estamos buscando um cinema independente que apresente uma visão única e memorável, seja no modo de contar a história, nos temas ou personagens, ou no ponto de vista do artista”.“Filmes de todos os tipos e gêneros fazem parte do nosso programa, então consideramos uma grande variedade de narrativas e documentários durante o processo de curadoria. Pedimos estreias internacionais, e temos quatro competições principais — duas internacionais, em ficção e documentários —, além de várias seções fora de competição”, explicou.Ela pontuou que sempre recomenda aos cineastas que foquem mais em contar suas próprias histórias, do jeito que quiserem contá-las, com os recursos que tiverem à mão, e que foquem menos em o que os festivais estão buscando, “pois um trabalho marcante encontrará o seu público”.Ana Paula Souza comparou a sua atuação em Sundance com outros festivais como Sun Valley e Palm Springs. “Eles têm objetivos muito diferentes do Sundance, que foca em estreias mundiais e internacionais e portanto destaca filmes inéditos. O trabalho que eu faço com o Sundance me permite entrar em contato com uma grande variedade de diretores e produtores e acompanhar projetos em várias fases de desenvolvimento”, detalhou.A programadora explicou que, às vezes, quando um filme acaba não encaixando no programa do Sundance, consegue encontrar uma oportunidade para ele em Sun Valley. Em Palm Springs, ela fica encarregada do planejamento dos júris, e também da programação de debates, painéis e encontros, além de organizar reuniões entre convidados da indústria e os diretores selecionados pelo festival. “Portanto, meu trabalho com o Sundance, reuniões feitas ao longo do ano, e os contatos na indústria ajudam muito durante esse processo”, revelou.Circuito de festivais no Brasil

Festival de Gramados

|  Foto: Divulgação

O Brasil tem vários festivais de cinema, incluindo o Festival de Gramado, o Festival do Rio, a Mostra Internacional de São Paulo, e o Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa). Para Ana Paula, “os festivais no exterior também podem aprender muito com o Brasil”.

Há interesse no potencial do público brasileiro, por ser um público que não vê filmes só em casa, que gosta de ir ao cinema e que é muito engajado culturalmente.

Ana Paula Souza – programadora na equipe de longas-metragens de Sundance

“Os festivais abrem as portas para conectar filmes a esse público, que nao deve ser subestimado. E vejo muitos festivais aqui criando espaços mais inclusivos para um público diversificado, focado em comunidades locais”, disse.Ela também destacou a importância desses eventos para os cineastas. “Eu sempre penso que os cineastas que passam por um festival trazem suas experiências e vivências para casa. Por tanto, os festivais que focam suas energias em criar uma boa experiência para os artistas e públicos que participam acabam sustentando futuras edições do festival por gerar mais interesse”, ressaltou.Ana salientou que os “festivais que conseguem focar em eventos acessíveis e que possibilitam encontros entre artistas, criam comunidades memoráveis que acabam ficando conhecidas”.Por outro lado, nos últimos anos, foi possível constatar um crescente interesse pelo cinema brasileiro no exterior. Conforme Ana, “o mundo está cada vez mais globalizado, mais conectado, e mais exposto a outras culturas. Eu penso que desse modo, os públicos internacionais estão muito mais abertos e dispostos a consumir um cinema que nao seja só o do próprio país e que seja de alta qualidade”.A Diretora de Programação frisou que o Brasil tem uma tradição de cinema muito forte no Brasil e que há vários exemplos de filmes que tiveram sucesso no exterior, “pois histórias que tem elementos universais conseguem viajar bem. A popularidade de plataformas digitais no mundo todo também possibilita o acesso ao cinema Brasileiro de modo que não imaginávamos décadas atrás, e que continua crescendo”.Ana Paula Souza avaliou que há um reconhecimento maior do público e da crítica estrangeira em relação ao cinema brasileiro. “E uma apreciação maior – que vem crescendo há anos, mas que realmente está atingindo um nível muito alto com a atual consideração pelo Oscars. Claro que ser destacado pelo AMPAS [Academy of Motion Picture Arts and Sciences] é apenas uma medida de visibilidade, mas continua tendo muita valorização e acaba virando algo simbólico”, completou.

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