A pobreza da mulher é um projeto do sistema?

O que acontece quando uma mulher não tem dinheiro? Quem se beneficia do seu silêncio?

Nos ensinaram que a pobreza é consequência da falta de esforço. Que, se uma mulher trabalha duro, um dia ela conquista seu espaço. Mas essa é uma das grandes farsas que sustentam a estrutura de poder. Mulheres não são pobres porque não se esforçam. São empobrecidas porque esse é o jogo. Um jogo onde os homens mandam e as mulheres servem.

A ONU diz que, no ritmo atual, a paridade de gênero nos parlamentos permanece um sonho distante, possivelmente não alcançável até 2063. E que ainda levará impressionantes 137 anos para tirar todas as mulheres e meninas da pobreza. Nenhuma mulher viva hoje verá um mundo onde a desigualdade material entre os gêneros tenha sido erradicada. Isso não é descuido. Não é acaso. É uma engrenagem de dominação.

Desde que o mundo se estruturou em sociedades patriarcais, a prosperidade foi um privilégio masculino. O acesso à autonomia política e financeira e até ao próprio corpo sempre foi negado às mulheres. Mas não a todas da mesma forma. Algumas puderam estudar, herdar bens, escolher com quem casar e a que mundo pertencer. Outras nunca tiveram esse direito. O dinheiro sempre circulou longe das mulheres que mais precisavam. As oportunidades também.

As mães solo que fazem malabarismo para pagar aluguel. As mulheres que atravessam a cidade de madrugada para trabalhar. As que moram de favor ou em bairros distantes, as que sustentam famílias inteiras. As que nunca tiveram condições financeiras para ter um filho. As que vivem sem rede de apoio, as que envelhecem sozinhas, invisíveis para o Estado e para a sociedade. Quem conhece essa realidade sabe que a escolha nunca foi uma opção real.

Nos livros para ninar meninas, nos contos de fadas, nos discursos sobre maternidade, nos dizem que o amor está acima da independência, que cuidar do outro é um dom, que mulheres “boas” fazem sacrifícios.

Mas como alguém pode escolher o amor se não tem escolha sobre a própria vida?

Se não pode pagar seu próprio teto, como sai de uma relação abusiva?
Se não tem um salário digno, como diz não para um chefe que a explora?
Se precisa escolher entre pagar a moradia ou um curso de especialização, como pode crescer?

O sistema quer que a mulher se orgulhe de ser forte, porque a força é a única coisa que lhe sobra. Mas e se a questão não for força, mas um mundo que nos obriga a lutar o tempo todo para simplesmente existir?

Querem que mulheres tenham autoestima. Que se sintam poderosas e sejam um exemplo de luz incansável. Que acreditem em si mesmas. Mas o que adianta autoestima sem acesso ao básico? O que adianta motivação quando o sistema já decidiu que você vai perder?

Mulheres não precisam de mais discursos sobre força. Precisam de dinheiro. Precisam de segurança. Precisam de políticas públicas que garantam igualdade salarial, crédito acessível, moradia digna, saúde mental e direitos básicos de sobrevivência.

Precisam de espaço. De descanso. De uma vida onde a responsabilidade emocional não recaia sempre sobre elas.

Sem recursos, seguem presas ao que o sistema permite – e não ao que realmente desejam.

A pobreza continua sendo uma sentença de submissão.

Fingir que liberdade não custa é perpetuar a ilusão de que a força sozinha pode quebrar correntes.

Sem discutir dinheiro, não há liberdade. Sem dinheiro, não há escolha.

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