‘Apesar do cenário, os empresários baianos estão otimistas com 2025’

Mesmo diante de um cenário global de instabilidade econômica e política, os empresários brasileiros, especialmente os baianos, mantêm projeções otimistas para o crescimento de seus negócios em 2025. É o que revela a pesquisa Plano de Voo 2025, realizada entre 16 de dezembro de 2024 e 21 de janeiro de 2025 pela Amcham (American Chamber of Commerce), instituição empresarial voltada para a promoção do comércio e investimento entre Brasil e Estados Unidos.Nesta entrevista ao A TARDE, o gerente regional da Amcham Bahia, Pedro Dornas, conta que a entidade ouviu 775 líderes empresariais, principalmente CEOs, sócios e diretores de empresas de médio e grande porte. “O que mais nos surpreende foi o otimismo do empresariado. Na Bahia, esse otimismo também prevalece”, afirma Dornas.Segundo ele, a confiança dos empresários baianos está relacionada, sobretudo, a três setores: agronegócio, energia renovável e mineração. O executivo cita a descoberta de novas áreas para exploração mineral, o potencial do estado na geração de energia solar e eólica e, no agronegócio, destaca o desenvolvimento do setor no oeste baiano.Na conversa, Pedro Dornas também falou sobre as expectativas para o comércio entre Brasil e Estados Unidos, mesmo diante das ameaças do presidente americano Donald Trump de taxar as exportações brasileiras de aço e alumínio. “Toda vez que ocorre uma troca de governo ou uma mudança de posicionamento geopolítico, surgem oportunidades”, avalia. Saiba mais na entrevista a seguir:A Amcham Bahia realiza nesta semana um encontro para discutir as tendências econômicas e financeiras que moldarão o estado neste ano. O que podemos esperar desse evento?O que os convidados podem esperar são discussões de alto nível sobre as oportunidades que o estado da Bahia oferece. Além disso, uma perspectiva econômica do Brasil em 2025 e como os resultados das eleições americanas podem afetar especialmente o nosso estado. Esse evento é exclusivo para os associados da Amcham e para convidados.O evento, que tem o nome “Plano de Voo 2025”, é resultado de uma pesquisa realizada entre dezembro e janeiro, com líderes empresariais. A pesquisa mostra que, mesmo em meio a um cenário global de instabilidade econômica e política, os empresários mantêm projeções otimistas para o crescimento de seus negócios. Esse resultado, de certa forma, o surpreendeu?Plano de Voo de fato é um evento cujo nome serve para detalhar as operações e perspectivas financeiras do Brasil para o ano de 2025. Esse pesquisa feira 775 líderes empresarias surpreendeu a nós aqui da Amcham e o que mais surpreende é o otimismo do empresariado. Na Bahia esse otimismo prevalece também. Ele prevalece em especial em três áreas, que são o agronegócio, a energia renovável e a mineração, que eu acredito que nos próximos anos a Bahia vai viver a era de ouro.O que leva esses empresários a ter uma visão mais otimista em relação ao cenário econômico do estado?Especialmente as novas descobertas de minas relacionadas à mineração aqui na Bahia. Teremos o maior evento de mineração do mundo que vai ser realizado também em outubro aqui em Salvador, no Centro de Convenções. Na área do agro a gente tem que reverenciar todo o oeste baiano na sua perspectiva de desenvolvimento nacional. E na área de energia renovável a Bahia é um dos estados que tem a maior área de incidência solar e de vento. Através de créditos estruturados, operações financeiras, credito que esses três setores vão ser um dos mais impactados positivamente. A Bahia hoje é o terceiro maior estado com perspectiva de mineração, somente atrás de Pará e Minas Gerais.Essa mesma pesquisa revela que a expectativa de crescimento dos negócios em 2025 está permeada por uma grande preocupação com os fundamentos da economia brasileira. O que mais preocupa o empresariado?De 775 empresários que participaram da pesquisa, se não me engano 62 ou 64% são de altos executivos, e todos eles demonstram uma insatisfação pela instabilidade jurídica em que o Brasil se encontra. Hoje é muito difícil você poder fazer um negócio a longo prazo com essas mudanças tributárias que ocorrem, além das mudanças jurídicas. Isso tudo infelizmente afasta os grandes investimentos do país. Mas existe uma preocupação grande também com a questão dos juros e os gastos do governo. Os juros sempre vão prejudicar a economia. E, atrelado a ele, tem a alta do dólar. Quase toda a cadeia de suprimento é baseada no dólar. Se a gente não tiver uma segurança cambial, infelizmente quem vai sofrer com a variação dos valores é a população.A pesquisa mostrou que há também muita expectativa e temor em relação ao cenário internacional, principalmente agora que o presidente dos EUA, Donald Trump, vem ameaçando cobrar tarifas de importação de vários países, entre eles o Brasil. Como a Amcham Brasil, que é a maior Câmara Americana de Comércio fora dos Estados Unidos, vem acompanhando esse cenário?Ainda é um cenário muito inicial para a gente poder fazer uma avaliação. De fato, o governo americano tem reajustado algumas taxas. Inclusive três semanas atrás o governo anunciou o reajuste de 25% das taxas de aço e alumínio e a câmara americana Amcham foi a primeira entidade a emitir uma nota oficial contra esse tipo de aumento. É muito cedo ainda para poder falar como vai acontecer. Mas, olhando pela perspectiva de negócios, toda crise tem uma oportunidade. Acho que agora é hora da gente olhar as oportunidades de negócios que podem ocorrer através dessas movimentações.Você considera que ainda é possível fortalecer a cooperação econômica entre os EUA e o Brasil, mesmo com essas medidas anunciadas por Donald Trump?O Brasil é um país fundamental para os Estados Unidos, assim como os Estados Unidos também é fundamental para o Brasil. Eu acredito que está aberta a rodada de negociação e tenho certeza que os governantes vão achar o meio termo para que todo o resto fique resolvido. Eu queria dar uma enfatizada sobre as oportunidades que podem vir a acontecer nesse mercado. Toda vez que acontece uma troca de governo, uma variação cambial, ou uma mudança de posicionamento geopolítico, surgem oportunidades. E que tipo de oportunidades? Oportunidades na tecnologia, na área do agro, na área de importação e exportação, sabendo explorar esse mercado. É um tempo propício para analisar o negócio e ter bastante calma nos investimentos. Mas é preciso ter calma para entender as oportunidades que estão acontecendo. Precisa haver bastante diálogo e compreensão para entender que estamos jogando do mesmo lado.Aproveito para perguntar sobre a Amcham Brasil, que hoje conecta mais de 3,5 mil empresas e 180 mil executivos. Qual é a importância da entidade para mapear interesses em comum e promover trocas de experiências? A Amcham é a maior câmara americana de comércio fora dos Estados Unidos. Através dos três pilares que a Amcham atua – divulgação, relacionamento e conexão -, a gente consegue aproximar os principais líderes empresariais do país. E como acontece essa aproximação? Através dos eventos e dos comitês estratégicos. É através do time de relacionamento, que é o time de relações governamentais. A gente consegue atuar amplamente em prol dos empresários do Brasil.O que o empresariado e as empresas podem fazer para se filiar à entidade, para ter uma relação mais próxima com a Amcham?Hoje todas as nossas ações são divulgadas nas redes sociais. Além disso, existe uma busca ativa pelas principais empresas e negócios aqui do nosso estado. Mas a empresa precisa ter um posicionamento de mercado que seja bom, dentro das áreas que eu citei de mineração, energia, agro, empresas familiares e tecnologia. Porque é através disso que a gente consegue oferecer um produto e um serviço de qualidade, promovendo as conexões, que de fato são para elevar a empresa a outro patamar.Essas conexões são basicamente com os Estados Unidos? Ou vocês estão abertos também para outros países?Apesar da Câmara Americana de Comércio, a gente não tem nenhum vínculo formal com o governo dos Estados Unidos. A gente faz atuação também em outros países, no quesito de imersão de negócios. Então, este ano aqui para a Bahia, a gente tem três áreas de imersão que vão ser programadas. Duas para os Estados Unidos e uma para a Europa nas áreas de agro, indústria e infraestrutura. A gente está promovendo essa imersão e negócios nessas duas praças para empresários desses três setores.A Amcham também tem a missão de promover o diálogo entre o setor público e privado para fomentar o desenvolvimento econômico do estado. Como esse trabalho vem sendo desenvolvido?Esse é um dos principais pilares da Amcham. A gente busca entender a demanda do setor privado e formas de se relacionar com o setor público, sempre com o objetivo de atender determinada demanda quando existe viabilidade.Além do evento desta quarta, a Amcham vem promovendo debates sobre desenvolvimento sustentável, políticas ESG e transformação digital. Esses são temas estratégicos para a entidade?A questão da sustentabilidade é um pilar importante na Amcham. Tanto que, no ano de 2025, a gente tem um evento específico para discutir somente sustentabilidade. E a gente investe e instrui também através de capacitação todos os associados para que eles também invistam na sigla ESG.Falando de assuntos mais pessoais, você foi convidado para liderar a Amcham na Bahia por conta de sua habilidade em networking e capacidade de reunir empresários, investidores e profissionais de diferentes setores. Na sua avaliação, qual a importância do networking para o sucesso profissional?Eu me mudei para Salvador em 2017, e de lá para cá tem sido um momento muito importante na minha vida, com bastantes desafios. Eu tenho sido muito feliz aqui na Bahia na minha atividade profissional. E, de certa maneira, eu procuro devolver à Bahia o que ela vem me proporcionando. É através de conexão entre marcas e pessoas, gerando valor, gerando negócios para o estado que tão bem me recebeu, me sinto feliz, me sinto realizado. E de fato, considero o networking fundamental para você ser bem-sucedido.Para concluir, você veio para a Bahia também como funcionário de uma empresa, e aqui se tornou empreendedor no ramo da tecnologia. Me fala um pouco sobre essas experiências e os desafios de empreender em nosso estado.Como te disse, me mudei para Salvador em 2017, como gerente de expansão de uma empresa de terceirização de mão de obra. Permaneci na Multiserv durante dois anos, e tenho uma empresa de tecnologia, que é o meu principal negócio, que é de internet para eventos. Empreender na Bahia é um desafio constante, mas tem muita oportunidade. Eu acredito que, tratar o networking como negócio, me abriu muitas portas.Raio-XPedro Dornas é executivo com formação em Administração de Empresas pela Universidade Tiradentes, MBA em Gestão de Marketing e pós-graduação em Marketing pela Trevisan. Apaixonado por conectar marcas a pessoas, possui experiência em estratégias de mercado, liderança e networking. Atualmente, está à frente da gestão da Câmara Americana de Comércio na Bahia, promovendo conexões estratégicas entre empresas.
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