Ficção, humor e reflexão: Mickey 17 usa comédia para crítica social

Quando Parasita ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2020, o mundo inteiro se interessou pelo trabalho do diretor sul-coreano Bong Joon Ho. Antes mesmo desse último filme, o cineasta era aclamado por obras como Memórias de um Assassino e Expresso do Amanhã. É comum encontrar pessoas que esperassem que o próximo filme do diretor fosse um “novo Parasita”, porém está muito longe disso.

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Mickey 17, longa de Bong Joon Ho que estreia hoje, explora a outra faceta do sul-coreano. Durante sua carreira, o cineasta produziu alguns filmes com abordagem mais voltada para ficção científica. Normalmente, essas obras apresentam alguma criatura fantasiosa e usa essa premissa para desenhar críticas sociais acompanhadas de boas doses de humor. Seu novo filme segue a mesma fórmula e mostra que a receita continua funcionando.A trama acompanha Mickey (Robert Pattinson), um membro de uma expedição espacial que trabalha como “descartável”. Sua função é realizar todos os trabalhos com risco de morte e, toda vez que ele morre, ele renasce em um novo corpo contendo todas as suas memórias. Ao chegarem no novo planeta, os tripulantes da nave encontram uma espécie alienígena com a qual o protagonista acaba desenvolvendo um forte laço.O roteiro consegue apresentar reflexões de forma leve, mas que não abdicam de sua profundidade. A principal questão que norteia a história é como a desigualdade social afeta a vida dos mais pobres. Além disso, o vilão é uma grande satira a figuras políticas autoritárias, conversando diretamente com o cenário político do mundo atualmente. Por fim, também existe toda uma crítica direcionada a como as grandes nações cometeram o genocidio de vários povos nativos no passado.O elenco funciona muito bem, com cada um possuindo um timing cômico muito bom. Robert Pattinson mostra que manda bem na comédia, enquanto Mark Ruffalo — que interpreta um personagem muito parecido com o que ele viveu em Pobres Criaturas — consegue entregar um vilão que o público vai amar odiar.Mickey 17 é para aqueles que gostaram de Bong Joon Ho em Okja e O Hospedeiro. A obra tem uma forte presença do humor, que é usada de maneira bem efetiva. O principal chamativo do filme são suas camadas de crítica, que abordam diferentes temas do nosso mundo.Nem tudo são floresA partir de sua metade, o filme começa a ir para um lado mais voltado para a ação. A satira bem humorada dá lugar a sequências eufóricas que beiram o genérico em alguns momentos. Apesar disso, tudo é muito bem gravado, então mesmo com a mudança de tom na história, essas cenas são boas de acompanhar. Por ter que focar nesses momentos de ação, o roteiro se esquece de desenvolver algumas coisas que haviam sido estabelecidas.A maioria dos personagens secundários não recebe aprofundamento nenhum, de forma que seus arcos parecem terminar pela metade. O filme quer focar no desenvolvimento de Mickey, porém, até nisso acaba cometendo deslizes. O “desenvolvimento” do personagem principal acontece por um flashback rápido e mal explicado. Por conta desses erros, talvez o filme não seja uma experiência tão gratificante quanto Parasita, mas com certeza continua valendo a pena.

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