Arquiteta é premiada com projeto desenvolvido em zona rural no RN

A Comunidade Várzea do Milho, criada pelo lendário Major Theodorico Bezerra, na sua Fazenda Irapuru, zona rural de Tangará, foi tema de um projeto de conclusão de graduação no curso de Arquitetura na Universidade Mackenzie, em São Paulo, que tirou nota máxima no ‘Prêmio Projetando o Futuro 2024’, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo. O projeto foi desenvolvido e inscrito no prêmio pela arquiteta natalense Maria Fernanda Galvão, graduada pelo Mackenzie em julho do ano passado.

Disputando o prêmio instituído pelo CAU-SP para estimular novos arquitetos, Maria Fernanda, que concorreu com arquitetos formados pelo próprio Mackenzie e por faculdades de Arquitetura da USP, PUC, Belas Artes e outras, tanto da capital São Paulo como de 10 cidades paulistas, foi a única a garantir a nota 100, com o projeto “Comunidade Várzea do Milho no Rio Grande do Norte: Uma experiência acerca da Cultura e Arquitetura”.

“O tema escolhido, em uma comunidade da zona rural do Rio Grande do Norte e com a materialidade da taipa de mão, surgiu ao longo de um processo de estudos onde eu já tinha em mente a vontade de trazer um pouco da cultura do meu estado para o meu trabalho, porque é minha origem e eu achei importante me conectar dessa maneira no meu último trabalho da faculdade”, justificou a arquiteta que se mudou para São Paulo para morar sozinha aos 17 anos, após ser aprovada no vestibular de Arquitetura do Mackenzie, com nota 10 em ‘Habilidade Específica’, ainda aplicada nos vestibulares da universidade, mas hoje abolida.

“A Comunidade Várzea do Milho surgiu de forma muito natural, a partir de pesquisas. Eu conheci a comunidade onde parte dos moradores ainda mora em casas de taipa e o barro é um material muito abundante na região; então por que não usar desse material? Aperfeiçoando a técnica, que é milenar, que funciona, e aplicada de forma correta, pode ter uma durabilidade e uma qualidade muito além do que se imagina”, explicou a arquiteta, que foi duas vezes à Várzea do Milho.

Para ela, além da vantagem da matéria-prima para a construção estar disponível para os moradores na própria região, a moradia em taipa consegue ser mais arejada do que as unidades construídas em tijolos e cimento. Para estudar melhor a forma de aplicação do material, a arquiteta recorreu a uma empresa especializada na cidade de Campinas, e o fundador da empresa foi escolhido, inclusive, para participar da banca do TFG (Trabalho Final de Graduação) de Maria Fernanda.

O projeto apresentado na Universidade em forma de livro e maquete, contou ainda com a participação do cordelista potiguar Marcos Teixeira, do município de Pedro Velho, e ocupante da cadeira número 30 da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de Cordel. A poesia popular intercalou os temas desenvolvidos no livro e foi encomendado por Maria Fernanda com base na história de Dona Ana Félix, de 90 anos, moradora da comunidade de Tangará.

“O famoso Artigo Quinto, da Carta Magna da gente, que presume a igualdade, de forma bem evidente, trata como desiguais, os iguais, infelizmente”, diz o último trecho do cordel, que justifica o destaque conquistado pela arquiteta no Prêmio do Conselho de Arquitetura de São Paulo.

Inscrita junto a mais de 200 novos formados, Maria Fernanda foi a única nota máxima, conquistando os prêmios de Menção Honrosa e Destaque em Equidade e Diversidade, tanto na etapa regional da capital, como na etapa estadual, ocorridas em 29 de janeiro e 26 de fevereiro. As entregas das premiações aconteceram na sede do CAU, no centro de São Paulo.

Arquiteta levou Nordeste para a Europa

Essa não é a primeira vez que a arquiteta leva sua origem nordestina para um trabalho de sua profissão. Há dois anos, em um curso de Design de Interiores no tradicional Instituto Marangoni, em Milão, na Itália, ela apresentou, em inglês, um projeto denominado ‘Seridó’, também justificando a origem familiar na pequena cidade de Acari.

Maria Fernanda é filha da jornalista Thaisa Galvão e do publicitário Paulo Henrique Braga. “Só sinto orgulho das surpresas que nossa filha apresenta de vez em quando, e certeza, cada vez maior, de que estávamos certos quando resolvemos abrir mão da convivência diária e apostar no futuro profissional dela”, disse Thaisa.

arquiteta natalense
Maria Fernanda e sua mãe, a jornalista Thaísa Galvão. | Foto: Cedida

A arquiteta Maria Fernanda, que em Natal foi aluna da Casa Escola nos primeiros anos de vida, e do CEI Romualdo por 11 anos e meio, hoje atua como arquiteta de criação no ‘Todos Arquitetura’, escritório comandado em São Paulo pelo arquiteto Maurício Arruda.

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