Em meio à folia, potiguares comemoram vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar

“And the Oscars goes to…”. Eram menos de 22h e o DJ DK se apresentava no largo da Rua Chile durante o Acorda Clubber, festival de música eletrônica. Poucos metros depois do palco, perto da área de bebidas e alimentação, um telão já exibia a transmissão do Oscar e dezenas de potiguares já sentavam nas cadeiras ou assistiam em pé o que se passava na tv. Eram pessoas que torciam pela vitória de Fernanda Torres e do longa Ainda Estou Aqui na principal premiação do cinema mundial. Entre barulhos do beat do palco e de leques do público, a narração prendia a atenção de quem ansiava por uma conquista brasileira inédita, seja lá em qual categoria fosse.

Entre o público que curtia aquele carnaval, algumas fantasias com referências ao filme. Uma Fátima de Tapas & Beijos circulava pelo espaço com a inconfundível blusa vermelha com detalhes brancos, enquanto um homem carregava máscaras com o rosto de Fernanda Torres.

E a vitória aguardada veio, já próxima da meia noite. Indicado em três categorias (Melhor Filme Internacional, Melhor Filme e Melhor Atriz), a estatueta coroou o longa de Walter Salles como a melhor produção estrangeira, feito inédito para o Brasil. Gritos e euforia ecoaram pelo espaço, num clima de Copa do Mundo.

“Essa categoria de melhor filme estrangeiro eu realmente esperava, porque dadas as últimas polêmicas de Emília Pérez, ficou bem claro que para a campanha do Oscar, realmente o filme que seria o vencedor seria Ainda Estou Aqui, então eu realmente esperava que nessa categoria a gente fosse vencer, mas de qualquer forma é realmente uma sensação quase inexplicável de presenciar finalmente um filme brasileiro levar uma categoria importante como essa”, disse o estudante Manoel Trajano, que estava na Rua Chile, após o resultado.

O Acorda Clubber não foi o único local a transmitir a cerimônia em Natal. Na Cervejaria Resistência, em Ponta Negra, após o encerramento do cortejo do Folia de Rua Potiguar, a cervejaria recebeu a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte para a transmissão ao vivo. Houve gritos de “sem anistia”.

“Mais uma vez, com muito orgulho, a Resistência é testemunha de um fato histórico para a democracia brasileira. Foi assim na última eleição do Lula, é assim na campanha permanente contra o fascismo, contra esses atos antidemocráticos, é assim em grandes momentos históricos que a Resistência sempre, de uma forma ou de outra, faz parte. Faz parte incentivando, faz parte participando, estimulando, muitas vezes até idealizando”, diz Anderson Barra, proprietário e fundador da cervejaria.

“Então é muito orgulho, num momento como esse, é fundamental, paradigmático para o cinema nacional, para a democracia brasileira, os camaradas estarem reunidos para vivenciar isso na Resistência. que é um local de luta, que é um local que vai muito além de uma cervejaria, é um espaço para essas manifestações mesmo”, continua Barra.

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O filme de Walter Salles conta a história real de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres) em sua jornada de quatro décadas à procura da verdade sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva (papel de Selton Mello). O ex-deputado federal foi assassinado durante a ditadura militar. A advogada e ativista Eunice Paiva morreu em 2018, aos 89 anos.

Em seu discurso, Walter Salles disse que, “em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário.” 

“Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir. Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, falou o diretor.

O Oscar só finalizou pouco antes de 1h. “Anora”, sobre uma jovem trabalhadora do sexo do Brooklyn, ganhou como Melhor Filme. Já Mikey Madison, também de “Anora”, levou a estatueta por sua atuação no papel-título no filme dirigido por Sean Baker.

Passado o entusiasmo, o público se dispersou do telão e voltou a acompanhar os shows. Naquela hora, a paraense Miss Tacacá já mostrava seu set, depois de um show antecedido por MC RB. Foi hora de desligar o telão e ir voltar para o show. O carnaval tem que continuar.

Marca

“Ainda Estou Aqui” alcançou a marca de ser o primeiro filme brasileiro indicado a disputar o prêmio principal do Oscar — e, agora, de levar a primeira estatueta, em filme internacional.

Lançado em 2024, o filme liderou as bilheterias brasileiras, atraindo mais de 2,9 milhões de espectadores. Reconhecido globalmente, o longa coleciona prêmios em importantes festivais internacionais. No Festival de Veneza, venceu Melhor Roteiro e recebeu o Green Drop Award. Também conquistou o Prêmio do Público no Vancouver International Film Festival, no Mill Valley Film Festival e no Miami Film Festival GEMS. Na França, durante o Festival de Pessac, levou o Prêmio Danielle Le Roy e o Prêmio do Público, confirmando sua força entre críticos e audiências. Fernanda Torres já havia feito história ao conquistar o Globo de Ouro no início do mês. 

O diretor Walter Salles esteve no Oscar com a produção Central do Brasil (1998), que também foi indicado a Melhor Filme Internacional. Na ocasião, Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, foi indicada à categoria de Melhor Atriz.

Onde assistir

Três cinemas de Natal continuam a exibir o filme “Ainda Estou Aqui”: o Cinemark (Shopping Midway Mall), o Cinépolis (Natal Shopping) e o Moviecom (Praia Shopping). Apenas o Cineflix (Partage Norte Shopping) encerrou a exibição.

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