Conheça a tradição dos ursos no carnaval de Mossoró

Para muitas pessoas, a chegada do carnaval é anunciada pela roda de crianças ao som de tambores que passam pela rua vestidas com trapos, fantasias e máscaras, pedindo uma moedinha.

Não se sabe ao certo quando essa tradição começou, mas os ursos chegaram no carnaval de Mossoró por volta da década de 1950, trazido por pernambucanos, segundo pesquisa realizada por Marcus Vinicius, mestre em Ciências Sociais e Humanas, escritor e contador de história, além de presidente da Comissão Mossoroense de Folclore e membro da Academia Mossoroense de Literatura de Cordel.

“Aqui de Mossoró, e descobri que a tradição da La Ursa veio para esse chão trazida por pernambucanos. A tradição era feminina: uma ursa, amarrada pela cintura e acompanhada por pandeiros e sanfona. Era uma tradição cigana trazida da Europa, em especial da Itália. Era a década de 1950. O tempo foi passando, essa tradição foi criando adornos, acessórios, características bem mossoroenses: de La ursa, passou a ser o Urso. De agave, passou a ser confeccionado por retalhos, tiras de tecidos. Os instrumentos foram substituídos por tambores e tarois, um apito na boca do caçador que por muito tempo segurou o urso que carregava um prato e pedia dinheiro para comprar a sua liberdade. Ninguém podia saber quem era o urso. Esse era o grande segredo. Com o passar do tempo, já nos anos 2000, mais mudanças: o urso foi perdendo a cara de urso e passou a ganhar as máscaras industrializadas de monstros, esqueletos… adaptando-se aos novos tempos”, relata o pesquisador.

Foto: Lucas Bulcão (Secom/PMM)

O estudo realizado por Marcus Vinicius foi restrito a Mossoró, que transformou o urso em Patrimônio Imaterial.

Por mais que não exista carnaval oficial na cidade de Mossoró. É o urso que, no início do mês de janeiro, depois da virada do Ano Novo, que sai da sua mala, bate a poeira e vem animar as ruas dessa cidade sonolenta. Estamos felizes porque com essa pesquisa, pudemos dialogar com a vereadora Marleide Cunha, que elaborou um projeto de Lei, apresentou à Câmara Municipal e conseguiu aprovar o PL. Agora, o urso é patrimônio imaterial da cultura de Mossoró. Pena que não há investimento, valorização pelas políticas públicas culturais da cidade de Mossoró. É uma manifestação que aflora na infância, atravessa a adolescência e vai até a vida adulta. Quem ama as tradições carnavalesca dessa performance e linguagem traz por toda vida dentro de si”, pondera Marcus.

Apesar da tradição estar presente em algumas cidades, em Mossoró, essa é uma característica que se tornou um traço forte da cultura local. E independente do carnaval da cidade, a folia é garantida pelos ursos, que todos os anos passam rua acima, rua abaixo, acompanhados de outros brincantes.

Urso com grupo de brincantes I Foto: cedida
Urso com grupo de brincantes I Foto: cedida

O que é do povo, ninguém tira. O que está correndo no sangue é transmitido para outras pessoas. Assim afloram as novas lideranças. Às vezes é uma manifestação cultural e artística que contagia membros da própria família, outras vezes contagia vizinhos, outros brincantes que decidem criar as suas próprias agremiações. Acredito que tenha se tornado mais evidente aqui em Mossoró porque essa cidade é um solo fértil para os trabalhos culturais, para as linguagens artísticas, mesmo que não haja um plano de políticas culturais e de igualdade para os cidadãos e cidadãs. Temos uma Secretária de Cultura, que já foi fundação, que é fruto de um trabalho árduo de artistas de vários segmentos, mais que não tem um diálogo democrático com os artistas, não sabe da real necessidade dos grupos para existirem. É uma cidade que vive, muitas vezes, de mentiras e de eventos turísticos e econômicos. A desvalorização do artista local é iniciada a partir dos valores que se contratam, especialmente, os artistas de linguagem ditas de cultura popular. Muitas vezes não se querem nem pagar, acham que devem ir de graça. Como o urso é da periferia, esta se organiza para não deixar acabar algo que já faz parte da nossa identidade. Já pensou se o ano letivo fosse iniciado com as oficinas de urso nas escolas, como é feito em outros estados para a multiplicação das suas culturas? A realidade seria bem outra. Os ursos ficam esperando pela política de editais. Se tiverem a sorte de serem contemplados, bom. Caso não sejam, saem por aí com o pires na mão mendigando uma esmola por caridade”, lamenta o pesquisador, que questiona as políticas públicas adotadas pelos gestores na área cultural.

Foto: cedida

Ficamos felizes em registrar a luta do mestre de Urso: Márcio Aquino, e sua família. Ficamos felizes em saber que o urso Futurista, o urso Sonhei que era assim, o urso meu Canarinho, o urso da Pirâmide, o Urso da Baixinha, o urso do Bom Jesus, do Belo Horizonte, do Paredões… Dos quatro cantos de Mossoró existem por insistência, não desistem porque acreditam no que faz. Somos felizes porque eles são patrimônio imaterial da cidade de Mossoró, que mesmo sem ter carnaval oficial, eles estampam as ruas, vencem as dificuldades, e muito mais que, com todo respeito, a falácia do cangaço e o engodo de se ter um espaço chamado de Arte da Terra tenha a figura de Lampião e Maria Bonita, gente que nunca pisou no chão mossoroense, mas que são homenageados pelo poder público, estão para contar, narrar e fazer as suas histórias”, critica Marcus Vinicius.

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