Peso e medida

A ocupação ilimitada de áreas de Salvador durante o período de Carnaval, diluindo-se conceitos arduamente construídos durante séculos, como o “público” e o “privado”, enseja a necessidade de se redefinir peso e medida para o uso dos espaços públicos para atender a interesses particulares.O perfil de festa pública e celebração coletiva de máxima intensidade, associado ao Carnaval, vem sofrendo os arranhões desta crescente privatização sem controle.O incentivo ao descalabro fica evidente em dois exemplos concretos da festa de 2025. O primeiro deles motivou “chuva” de protestos vindos de entidades da área de urbanismo e de cidadãos, ao questionarem a implantação de passarela ligando o Morro do Ipiranga a um camarote privado na Barra.O caso resultou em série de embates judiciais envolvendo questões como segurança e legalidade da estrutura, que chegou a ser interditada por determinação do Tribunal de Justiça da Bahia – decisão posteriormente revista.O segundo fato ilustrativo da ocupação desmedida está nas estruturas temporárias e na propaganda massiva montadas pela plataforma iFood nos circuitos.Não se trata de rejeitar, por dogma, a participação da iniciativa privada na folia, mas de motivar reflexão para que interesses corporativos não acabem por sobrepor o cunho de celebração da cultura popular, ofuscando sua autenticidade pela multiplicação de logotipos e slogans exibidos de forma excessiva.Tais condutas inspiram debates sobre a gestão urbana e a responsabilidade das autoridades no planejamento da festa e na garantia de diálogo com a comunidade.Resta aos munícipes a boa vontade para evitar a locupletação por alguns de um espaço de todos, prejudicando, assim, a própria lucratividade dos próximos carnavais, graças a ambição e ganância.O equilíbrio e a moderação, valores associados ao Bem Supremo, recomendam uma mediação, com a escrita de um compromisso, firmado por todas e todos quantos representam os segmentos da economia soteropolitana.
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