Não foi acidente, assassinaram mais um ciclista em Natal

Peço permissão à competente jornalista Jana Sá para usar o título do filme por ela produzido “Não foi acidente, mataram meu pai”, que aliás recomendo que assistam, para usar o mesmo título e analisar a morte do jovem ciclista Araken Britto, na manhã do dia 24 de fevereiro de 2024, em Natal.

Em várias oportunidades, venho escrevendo que enquanto uma prefeitura tratar a ciclomobilidade como brincadeira de criança e como uma alternativa à mobilidade urbana, pedalar na cidade será algo que não irá, efetivamente, se consolidar. E o acidente e consequente morte de Araken Britto é apenas uma constatação macabra do que eu venho alardeando a anos…Minha lista de artigos, somente no SAIBA MAIS sobre pedalar em Natal segue aqui abaixo:

Quando a ciclovia não é para o ciclista (2024), 19 de agosto, dia do ciclista nacional (2022), Não foi com um dos nossos ciclistas (2022), A árvore da discórdia (2021), Em Natal (RN), ciclistas são assaltados no atacado (2021), Des-celebrando o dia mundial sem carro (2021), Os furtos e roubos de bicicletas em Natal (2021), Desejei que bandido bom fosse bandido morto e me arrependi (2021), Pedalar em Natal: “uma modinha” (2020).

Apesar das exigências formais, apesar de alguma pouquíssima pressão de movimentos de ciclista quando existe, e, apesar da Prefeitura de Natal anunciar que está incentivando que pessoas saiam de Natal em bicicletas, pedalar em Natal se torna uma aventura, um ato de bravura e uma postura inconsequente e irresponsável de quem monta numa bicicleta e pedala pela cidade! Nesse sentido, seria Araken Britto o culpado pela sua própria morte somente porque ele tomou a decisão de pedalar em Natal no começo da manhã?

A celebre frase cunhada pelo ex-prefeito Álvaro Dias, que Natal caminha (não pedala) para ser referência em matéria de respeito aos ciclistas não é verdade, primeiro porque esse senhor JAMAIS pedalou pelas ruas de Natal; segundo porque quem REALMENTE pedala pelas ruas de Natal sabe dos riscos de estar numa bicicleta num trânsito caótico, com pouca fiscalização da STTU e sem NENHUM apoio por parte da prefeitura para os ciclistas que pedalam por Natal. Eu mesmo já caí exatamente no mesmo local do acidente de Araken Britto, quando levei uma fechada de um ônibus, numa noite qualquer de agosto de 2023; tive mais sorte…

A nova gestão que se inicia, Paulinho Freire e Joanna Guerra, já tem um grave problema a resolver, problema esse que a gestão do futuro dos longos seis anos do ex-prefeito Álvaro Dias não resolveu: melhorar a mobilidade urbana em Natal. Quem se desloca em carro sofre diariamente com os constantes engarrafamentos na cidade, além de buracos, crateras lunares, nas nossas ruas e avenidas; quem se desloca nos transportes coletivos sofre diariamente com a péssima qualidade dos ônibus, além da retirada de diversas linhas e aumentos constantes no preço das passagens muito embora a prefeitura já tenha subsidiado empresas que oferecem o transporte público; quem anda, caminha, por Natal sofre com as calçadas irregulares, um convite a uma queda e topada; e, quem pedala…fala aí, ciclista, fala do bom que é pedalar em Natal…

Conforme a Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei 12.587/2012), a boa mobilidade urbana é aquela na qual a prefeitura PRIORIZE os transportes públicos de massa, sobretudo trens, ônibus e veículos fluviais. Não custa lembrar da judicialização do caso trincheiras em Natal, tão defendida pela gestão Álvaro Dias. A mobilidade urbana que queremos é aquela que na cidade, nós que pessoas comuns que somos, possamos caminhar pelas calçadas sem que haja dificuldades. A mobilidade urbana que desejamos deve/tem que nos dar condições de sairmos em bicicleta sabendo que há cicloestruturas e que nelas nos sentimos mais seguros. Ou seja, e conforme a ONU, a mobilidade ideal é aquela que faz as cidades mais inclusivas e sustentáveis.

Na sua última passagem pela prefeitura de Natal, o atual prefeito Paulinho Freire renunciou e espero que essa postura volte a ocorrer. E se ocorrer, Joanna Guerra será a prefeita de Natal. Guerra faz questão de dizer que é formada no curso de Gestão de Políticas Públicas pela UFRN. Tendo sido minha aluna em quatro disciplinas, Guerra estudou e deve ter aprendido que uma boa gestão pública é aquela tem que ser PARTICIPATIVA, ou seja, que o gestor não pode ser um gestor de gabinete; ele, no caso, ela, a gestora deve ir aos locais, fazer um diagnóstico, conversar com técnicos, demais órgãos públicos e, juntamente com a população, entender o problema, criar uma árvore de problemas e, em conjunto formular as melhores alternativas para a resolução do problema.

Assim, proponho a Joanna Guerra que ela revise seus apontamentos e chame as pessoas que pedalam em Natal para debater propostas que melhore a mobilidade em bicicleta na cidade. Fazer da ciclomobilidade em Natal uma questão urgente, colocar o tema na agenda e fazer a ciclomobilidade passar pelo ciclo das políticas públicas. Urge que a prefeitura de Natal levante o debate sobre mobilidade urbana que, repito, a gestão do futuro Álvaro Dias teve seis anos para encontrar soluções que melhorasse o tráfego urbano e não conseguiu…

Enquanto isso, espero sinceramente que o motorista do caminhão que vitimou Araken Britto não seja o culpado pela morte do ciclista! Independente dele ser culpado ou não, o fato, mais um ciclista foi assassinado quando estava na sua bicicleta pelas ruas e avenidas de Natal. E esse assassinato não ocorreu porque chegou o dia do chamado divino a Araken, mas ocorreu, muito, pela falta de apoio dos órgãos públicos em criar as condições, ÓTIMAS, para a prática da ciclomobilidade em Natal.

Assistam o filme de Jana Sá “Não foi acidente, mataram meu pai”!

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