De volta ao Mercado da Redinha, comerciantes temem novo fechamento

O novo Mercado da Redinha ainda não havia nem aberto as portas, mas já tinha gente do lado de fora esperando para entrar. Ainda do lado externo, é possível perceber que o lugar ganhou ares majestosos, com teto alto e portas enormes que fazem, como nas grandes catedrais, nos sentirmos pequenos diante do que está por vir.

Ao entrar, a vista toma de conta do ambiente. Bem iluminado e de frente para o encontro do mar com o Rio Potengi, não seria preciso fazer muito para tornar o lugar num espaço agradável. Os boxes (apenas uma parte está funcionando) oferecem o que há de mais tradicional na Redinha, a famosa ginga com tapioca, mas não só isso, também há uma variedade de pratos, caldos e petiscos.

Entrada do Mercado da Redinha
Deck do Mercado da Redinha I Foto: Mirella Lopes
Deck do Mercado da Redinha I Foto: Mirella Lopes

O deck é um mundo à parte com o encontro geométrico da natureza com a criação humana. Rio, mar e a Ponte Newton Navarro compõe um cenário difícil de ser reproduzido, tudo muito colorido pelo céu solar da cidade. E o novo cenário trouxe, também, novos visitantes. Uma das mudanças que os comerciantes observaram desde que o Mercado da Redinha foi reaberto é a visita de turistas.

 Adelian, por exemplo, mora na Noruega há 15 anos, mas não esquece as origens e todo ano está de volta.

Sempre venho todos os anos porque a saudade é grande, o calor humano e do nosso clima que é maravilhoso… saí de um frio de -160C”, brinca Adelian Barbosa, que é enfermeira.

 Adelian, de chapéu, com o marido, a família e amigos I Foto: Mirella Lopes

O Mercado me surpreendeu. Da vaga lembrança que tenho na memória do Mercado antigo, tinha mais comercialização de peixe pelos pescadores, não esse ambiente para você sentar e apreciar o mar, com ventilação, ficou muito bom”, elogia.

Cristiane Maria Santos é de Salvador e o companheiro do Ceará. Ambos estavam morando em São Paulo e por questões de saúde mental, decidiram morar em Porto Seguro (BA). Mas, antes disso, o casal fez um tour pelo Nordeste.

Fomos até São Luís [no Maranhão] e estamos retornando. Fomos por dentro e estamos voltando pelo litoral. O detalhe é que a gente viaja num celtinha 2012, dormimos e cozinhamos nele, só quando estamos muito cansados pegamos uma pousada”, revela.

Cristiane e o marido I Foto: Mirella Lopes

Eles tinham acabado de chegar de Genipabu e pararam no Mercado da Redinha.

Aqui é uma vila de pesca né? O Mercado parece que é novo, mas é bem estruturado e bem organizado”, observa Cristiane, que vai passar três dias em Natal com o marido.

Apesar de morar em Natal, Josélia ainda não tinha vindo ao Mercado da Redinha e saiu encantada.

Chegamos às 9h e estava fechado. Gostei muito, o pessoal é muito acolhedor, simpáticos, a comida estava maravilhosa”, elogia Josélia Xavier, cuidadora de idosos.

Josélia com a família

Data para fechar

Mas, nem tudo é sol, mar e água fresca. Apesar do bom retorno que os comerciantes e antigos permissionários estão tendo, o novo Mercado da Redinha já tem data para fechar. O espaço, que funcionou entre 26 de dezembro e 26 de janeiro, foi reaberto no dia 7 de fevereiro e só permanecerá funcionando até o dia 9 de março.

A preocupação é conseguir retornar ao Mercado em definitivo. A promessa é que todo mundo fique com seus boxes, mas essa questão ainda não foi esclarecida. Vão fechar para a nova licitação e vai ter o sorteio para que cada um fique nos seus boxes”, prevê Luane Rafaelly, permissionária.

Luane e a tia

Luane, cuja família possui dois boxes no novo Mercado, faz parte de uma tradição que vem desde seu bisavô, que praticamente criou a ginga com tapioca.

Antigamente as gingas eram jogadas no mar, as pessoas com menos condições que pegavam para se alimentar. Mas, meu bisavô teve a brilhante ideia de colocar no palito do coqueiro e pediu para minha bisavó fritar, aí ela fez a tapioca e colocou dentro, daí ficou o prato típico que hoje é patrimônio imaterial”, revela.

Isso tem mais de 40 anos. A tradição ficou com minhas tias, Ivonise, Ivone e Ivete, filhas de Dalila Januário e Geraldo Preto. Nossa esperança é continuar levando esse prato típico, que essa cultura não saia da Redinha, que é muito conhecida pelo Mercado Público e pela ginga com tapioca”, observa Luane, que espera continuar trabalhando no local.

Tá um espaço muito bonito, as pessoas estão muito satisfeitas, o Mercado merecia essa reforma porque estava bem esquecido. Tem vindo mais pessoas de outras localidades, acho que o feedback está positivo, porque está atraindo mais gente”, avalia.

Vista da área externa do deck do Mercado da Redinha
Comerciante com a tradicional ginga com tapioca I Foto: Mirella Lopes

O Mercado da Redinha está funcionando ainda dentro do Festival Boteco Natal, abrindo nas sextas, sábados e domingos, das 10h às 20h, e nos demais dias a partir do meio dia, sempre com uma tração musical.

Os permissionários têm a mesma preocupação em comum, saber quando retornarão depois do dia 9 de março.

Receber o auxílio não é nada comparado a ter seu ponto”, comenta um permissionário que pediu para não ser identificado.

A preocupação da gente é só essa, saber como vamos ficar quando voltar a fechar, por quanto tempo vai fechar. Já estamos instalados, o Mercado está apto a funcionar, vai fechar por quê? É a pergunta que fazemos à Prefeitura”, questiona.

O Complexo Turístico da Redinha é formado por cinco blocos: o Mercado, o estacionamento, o calçadão, os quiosques e o quebra mar.

Só o Mercado está pronto, então acho que não vai ter empresa nenhuma interessada só no Mercado porque no contrato está o Complexo Turístico, mas só o Mercado está pronto. Qual empresa que vai querer entrar aqui para administrar apenas o Mercado pelo mesmo valor que seria todo o Complexo?”, volta a questionar.

“Quanto tempo isso aqui vai ficar fechado? Nosso medo é que esse se torne o Mercado das Rocas, que até hoje só tem três ou quatro boxes, ou seja, não funciona”, alerta.

Ninguém quer receber auxílio de R$ 1.200. A gente quer trabalhar! Esse dinheiro a prefeitura poderia pegar e pagar uma empresa terceirizada para fazer a limpeza e a segurança do Mercado”, sugere.

Mercado da Redinha I Foto: Mirella Lopes

Regras e preços tabelados

Ao contrário do que costuma ocorrer na praia, onde as pessoas passam oferecendo de um tudo, os permissionários contam que no Mercado da Redinha há algumas regras a seguir, eles não podem, por exemplo, abordar o cliente. Quem quiser consumir alguma coisa tem que se dirigir a um dos caixas e comprar uma ficha, para só então fazer o pedido em um dos boxes.

Outra reclamação dos comerciantes é do controle de preços que tem sido feito pela empresa que administra o espaço.

O que a gente quer é que continua, não como o Boteco Natal, nada contra os organizadores, mas temos consciência que o Mercado precisa ser aberto com todos os permissionários, para que dê continuidade ao que já oferecíamos. Como é um boteco, oferecemos mais petiscos, não tem mais aquele peixe com pirão que o pessoal gostava. É um valor fixo de R$ 20 e por esse preço não temos como oferecer uma cioba grande, aquelas postas de atum e os acompanhamentos…”, relata outra comerciante.

“Um detalhe importante a ressaltar é o valor da ginga com tapioca, R$ 20 assusta nosso cliente. O que temos percebido é que aquela nossa clientela da Zona Norte, que estava aqui de janeiro a janeiro, não está vindo. Aqueles que ainda comparecem estão preferindo outros pratos, um bobó de camarão, algo que faça valer o valor. O nosso prato típico que é a ginga com tapioca e R$ 20 está caro, antes era em torno de R$ 12 a R$ 15, não passava disso. Eles se assustam e não voltam, já cansei de ouvir dos clientes”, arremata.

Mercado da Redinha I Foto: Mirella Lopes
Mercado da Redinha I Foto: Mirella Lopes

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