Eu vi a Sailor Moon

Eu vi a Sailor Moon. Uma Sailor Moon preta, Travesti, num baile de carnaval. Ela não apareceu no meio de nós, não! Era imensa demais pra estar ali, como uma de nós, na plateia. Ela pousou no palco. E brilhava!!! Meu Deus!!! Como ela brilhava!!!

Eu vi a Sailor Moon num baile de máscaras! Numa Sala de Justiça onde justiceiros, vilões, pierrôs e colombinas, animes, HQs, bruxas e magos, odaliscas e piratas, deusas e animais se misturavam para se divertirem, para vivenciarem as prévias da festa mais mestiça e brasileira de todas, na qual todo mundo se mistura: o carnaval.

Eu vi a Sailor Moon em Recife, cantando e encantando, dançando, performando, se entregando inteira para uma multidão de gente fantasiada que a acompanhava num coro frenético, cheio de energia e muita troca, seguindo seus comandos sem pestanejar.

Eu vi a Sailor Moon sambar, frevar, rebolar, engolir um palco. Sim! Ela engoliu o palco, a assembleia, os músicos e explodiu num sonho zumbi de uma negona dos olhos terríveis. Ela exalava a caju, sua pele era de um veludo cor marrom. Bagunçou a vida de todo mundo e fez um escarcéu com o sorriso de quem estava ali, vendo a Sailor Moon preta Travesti reinar.

Eu vi a Sailor Moon com febre, gostosa, querida, derramando amor puro e ouro de seu pote, salvando os domingos e outros tantos dias daquela galera que se sentia “so special” por estar ali, vendo a Sailor Moon, a Navegante da Lua, pousar numa terra ensolarada, fazendo a praia num quintal pernambucano, “tudo muito aceso”, brilhante, ofuscante e quente.

Eu vi a Sailor Moon arder e botar fogo na sua audiência. Eu estava lá, eu peguei fogo. Saí outra, como num processo alquímico. Eu vi uma casa de show lotada, cheia de mascarados/as/es, entupida de pessoas de todas as orientações sexuais e identidades de gênero, de diferentes idades, com inúmeras cores de pele, tamanhos e portes físicos distintos ovacionando uma mulher Travesti preta.

Eu vi uma mulher Travesti preta sendo adorada por uma multidão. Naquela noite mágica, em que tudo era permitido, Liniker era a Sailor Moon e navegava por onde quer que o som de sua voz fosse capaz de alcançar.

Ela, imensa, mesmo depois de deixar o palco, deixou-se ficar em nossas vidas, como se a partir de então morássemos dentro de seu abraço concha e de quebra ainda nos presenteou com uma lição: AMOR É TUDO!!!

Eu vi a Sailor Moon. E ela era uma mulher preta Travesti poderosa! Chorei ao ver aquela multidão se render a ELA, a Liniker, essa mulher preta Travesti poderosa.

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