Educação potiguar vive estagnação generalizada e clama por socorro da sociedade

Os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelam um cenário preocupante para a educação pública no Rio Grande do Norte e em Natal. Os dados apontam estagnação nos principais ciclos de ensino, com índices abaixo das metas estipuladas pelo Ministério da Educação (MEC) e sem avanços nos últimos anos. O retrato é claro: a educação potiguar enfrenta um ciclo vicioso de baixo desempenho que compromete o futuro de milhares de estudantes.

No Ensino Médio estadual, o Ideb alcançou 3,2 em 2023, longe da meta estipulada de 4,4. Em 2021, o índice era ainda mais baixo, com 2,8, mas mesmo com o crescimento registrado, o número se iguala ao de 2019, que também foi de 3,2. Ou seja, em quatro anos, o sistema praticamente não avançou. “O Ensino Médio é o maior gargalo do nosso sistema educacional. A estagnação dos números mostra que as políticas públicas não têm conseguido impulsionar melhorias concretas”, afirma Cláudia Santa Rosa, ex-secretária de Educação do RN e especialista na área.

O cenário em Natal também é preocupante. O Ensino Médio na capital registrou um Ideb de 3,6 em 2023, próximo da meta de 3,8, mas sem avanços desde 2019, quando o índice foi exatamente o mesmo. A ausência de dados para 2021 impede uma análise completa, mas o fato de a meta mínima ainda não ter sido alcançada evidencia um sistema que falha em elevar o nível de aprendizagem dos estudantes.

Os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, geralmente vistos como a base para o aprendizado, também mostram problemas. No Rio Grande do Norte, houve uma leve melhora em 2023, quando o Ideb foi de 5,0, superando a meta de 4,8. Mas em Natal, o índice caiu de 4,9 em 2019 para 4,6 em 2023, distante da meta de 5,4. Para Cláudia Santa Rosa, o problema começa ainda na alfabetização.

“Os dados da Campanha Nacional Criança Alfabetizada mostraram que Natal alfabetiza apenas 34,5% das crianças até os 7 anos. É muito pouco. Quando a criança não é alfabetizada corretamente na idade certa, ela carrega essa defasagem por toda a vida escolar”, explica.

Os Anos Finais do Ensino Fundamental são outro ponto crítico. No RN, o Ideb caiu de 3,9 em 2021 para 3,7 em 2023, bem abaixo da meta de 4,6. Em Natal, a queda foi ainda mais acentuada, de 3,9 em 2021 para 3,4 em 2023, enquanto a meta era 4,9. “É difícil recuperar uma defasagem educacional depois do 5º ano. Se a criança chega lá sem ter sido devidamente alfabetizada e sem ter desenvolvido competências básicas, o resultado aparece nos anos finais e no Ensino Médio, onde as notas despencam”, avalia Cláudia.

Ela também aponta falhas estruturais como causas dos baixos índices. “Em Natal, por exemplo, a carga horária dos professores é muito curta. Como se alfabetiza uma criança em apenas 13,5 horas por semana? É insuficiente”, critica. Para ela, reverter o quadro exige vontade política e medidas estruturadas. “É preciso monitorar o percurso de cada aluno desde a educação infantil e corrigir desvios antes que se tornem problemas maiores. Além disso, investir em formação de professores e em materiais didáticos alinhados às competências avaliadas pelo SAEB é essencial”, sugere.

A Secretaria Municipal de Educação de Natal, por meio do secretário Aldo Fernandes, afirma que tem investido em estratégias para ampliar as aprendizagens dos estudantes. Entre as ações destacadas estão a formação continuada de professores, diretores e coordenadores pedagógicos, além da implementação de plataformas para avaliação contínua e recomposição de aprendizagens. “Lançamos a premiação ‘Avançar Educando’ para incentivar todos os atores da rede e estamos realizando um concurso público para 710 vagas de professores efetivos”, informou Aldo.

No entanto, ao analisar os números friamente, as medidas adotadas ainda estão aquém das necessidades. Apesar dos investimentos em plataformas digitais, premiações e capacitações, os índices continuam baixos e, em alguns casos, em queda. O próprio secretário reconheceu que a evasão escolar e a reprovação são os principais desafios. “Esses fatores impactam diretamente o Ideb e as avaliações do SAEB”, disse.

Cláudia Santa Rosa acredita que o problema vai além de ações pontuais. “É preciso decisão política e engajamento da sociedade para exigir melhorias. Sem isso, continuaremos a ver nossos estudantes saindo das escolas sem o conhecimento básico necessário para enfrentar o futuro”, conclui.

Enquanto isso, os números seguem estampando a realidade de um sistema educacional que falha em sua missão mais básica: garantir o direito de aprender. A estagnação generalizada do Ideb no Rio Grande do Norte e em Natal é um alerta claro de que a educação clama por socorro. E o tempo para agir está se esgotando.

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