Estudantes de Medicina no Paraguai reafirmam atraso do diploma e ‘assessoria’ paga

Estudantes de Medicina no Paraguai reafirmam atraso do diploma e ‘assessoria’ paga

O H2FOZ expôs que estudantes brasileiros de Medicina, em Ciudad del Este, Paraguai, enfrentam demora na entrega dos diplomas, acima dos dois meses previstos em lei (leia aqui). Após a publicação, a reportagem teve acesso a mais alunos que relataram ter se formado em 2024 e não recebido o documento até agora. Todos são da Universidad Politécnica y Artística del Paraguay (UPAP).

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A maioria dos médicos recém-formados também confirmou o pagamento do serviço de “assessoria” a pessoas que cobram cerca de R$ 3 mil com a promessa de dar celeridade aos trâmites, mas o diploma não chega. Uma dessas profissionais seria uma advogada de Foz do Iguaçu, identificaram.

OUTRO LADO – A direção da universidade negou haver atraso na entrega de diplomas a brasileiros formados no curso de Medicina em Ciudad del Este. E informou que não tem ciência, não recomenda e não permite que terceiros ofereçam ou realizem serviço remunerado de “assessoria” a estudantes para a obtenção da certificação. Leia aqui:

  • Universidade do Paraguai nega atraso na entrega de diplomas de Medicina a brasileiros

O H2FOZ teve acesso a materiais demonstrativos de que os alunos cumpriram as exigências acadêmicas, como a tese e a parte prática da formação, o internato – o que requer ter a documentação em dia, parcialmente reproduzidos aqui. E a pagamentos, mensagens e áudios de quem oferece e realiza a “assessoria”.

Medicina no Paraguai

A reportagem ouviu cinco pessoas de um novo grupo de oito universitários – depois da veiculação da primeira reportagem -, que apresentaram seus relatos sob a condição de terem os nomes preservados, pelo temor de serem prejudicados. Esse foi o mesmo argumento ao explicarem o porquê de não terem registrado as reclamações nos canais institucionais da universidade. Os oito alunos são moradores de cidades da Bahia, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, São Paulo e Paraná (Foz do Iguaçu).

Valores cobrados dos alunos do último ano, não incluindo a “assessoria” de R$ 3 mil – foto: reprodução autorizada por estudante.

De modo geral, os médicos formados dizem que o atraso no diploma os impede de exercer a profissão e retarda a revalidação do título no Brasil, bem como a participação no Mais Médicos. E faz aumentar os custos para a permanência na fronteira, para quem é de outras cidades e estados, com alimentação, deslocamento e moradia.

Estudante 1

Apresentou a tese em setembro, aprovada com nota máxima, e concluiu o internato em abril do ano passado. Pagou a taxa referente ao título de grau também em setembro. Relata que apresentou todos os documentos desde que se transferiu para a UPAP. Deveria ter obtido o diploma em dezembro.

Ela explicou por que não se reportou à instituição. “Não conseguimos acesso direto à UPAP. Todavia, eu e alguns colegas pagamos assessoria advocatícia para que possa cuidar dos trâmites, uma vez que retornei para minha cidade [em outro estado].”

Ela pagou o serviço de “assessoria” porque precisou voltar para a sua cidade. Não se inscreveu no Revalida 2024 para evitar gastos e embates jurídicos, por não ter o diploma em mãos. E não pôde inscrever-se no Mais Médicos.

“Infelizmente, vivemos dias de terror dentro do Paraguai, com os abusos por parte das universidades. Mas ainda assim, sei o quão importante é e segue sendo a formação economicamente acessível para que pudéssemos obter nossa formação médica. Poderia ser de uma forma mais respeitosa, empática e não tanto dolorosa e sofrimento psicológico”, desabafou.

Estudante 2

Apresentou a tese e foi aprovada, tendo concluído o internato em março. O pagamento da taxa do diploma foi efetuado em 22 de outubro, não possuindo pendências. O prazo para receber o diploma era janeiro de 2025. Não pagou o serviço de “assessoria”. Como prejuízo pelo atraso do documento, resumiu: “Não consigo trabalhar.”

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Para demonstrar regularidade, alunos enviaram comprovantes de entregas de documentos e teses apresentadas – foto: reprodução autorizadas por alunos.

Estudante 3

Apresentou tese em setembro. Disse que recebeu, de uma funcionária da UPAP, a informação de que o prazo de entrega do diploma é de até seis meses – a lei determina dois meses. A médica recém-formada refutou eventual atraso na entrega de documentos. “Em relação a pendências, só podem existir até o internato, porque esses documentos vão para o ministério. Não existe ninguém que entre no internato devendo documento”, declarou.

Ela expôs de onde partiu a indicação para a “assessoria”. “A direção da filial de Ciudad del Este indica uma advogada.” E narrou que os problemas na instituição, na sua opinião, começam com o internato. “Eles dizem que são poucas vagas, nos mandam para outras regiões, a gente tem que gastar com mudança, novos aluguéis etc.”

Permanecer em Foz do Iguaçu, à espera do diploma, representa mais gastos, sem poder trabalhar ou participar do Revalida e Mais Médicos, disse. “A realidade é que muitos alunos querem denunciar. Porém, por já conhecer como ‘funcionam’ as instituições, preferem calar e esperar. Eles vão falar que estão dentro do prazo, que não depende deles, jogam a responsabilidade no MEC.”

Ao concluir, pediu o envio do link da reportagem. “Até mesmo para justificarmos para nossos familiares que, infelizmente, muitas vezes, desacreditam dessa situação que vivemos aqui.”

Estudante 4

Com tese aprovada em setembro, o aluno concluiu o internato em fevereiro de 2024, pagando a taxa de titulação à universidade “em setembro ou outubro”, estabeleceu. Afirmou que não deve nenhum documento. O diploma era para ser entregue em dezembro, segundo administradores da UPAP, contou.

E citou os prejuízos com o atraso: “Pagamento de aluguel, alimentação e transporte. Por não ter condições de retornar à minha terra, devido a passagens aéreas muito caras, eu e um grupo de alunos tivemos que dividir despesas para conseguir nos manter em Foz do Iguaçu, aguardando três meses após a apresentação da tese, com a esperança de adquirir o diploma, que até hoje não saiu”, lamentou.

Perguntado se pagou pelo serviço de “assessoria”, respondeu afirmativamente. “Paguei pelo serviço e, mesmo assim, a advogada não conseguiu a documentação, alegando que a UPAP não enviou os malotes para o MEC e que a funcionária responsável pela assinatura dos documentos não estava indo trabalhar”, elencou.
O estudante prosseguiu. “Outra desculpa foi uma suposta invasão no site do MEC. Mas, mesmo com todos esses problemas, outro advogado, que suspostamente é parente de alguém de dentro das instituições, pegou o diploma de alguns alunos que contrataram seus serviços, mesmo a minha advogada alegando esses diversos problemas”, relatou.

Estudante 5

Tese apresentada em setembro de 2024, aprovada, com internato concluído em março. Pagou o equivalente a R$ 3,3 mil na taxa de titulação à universidade, além do serviço de “assessoria”, de R$ 3 mil, para “advogada brasileira”, pontuou. Sem pendências, o diploma era para chegar em dezembro. Segue esperando.

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