Saúde pública: acesso dos povos indígenas gera debate na Bahia

O Centro Internacional de Estudo e Pesquisa da Saúde da População Negra e Indígena (CIEPNI) reuniu estudantes da área da saúde e lideranças indígenas, na tarde de ontem (30), para discutir questões como o acesso dos povos indígenas ao sistema de saúde pública, a importância da preservação dos conhecimentos tradicionais e os desafios de cursos de saúde para a população indígena, em formação acadêmica que respeite e incorpore essas tradições.“A discussão sobre a saúde da população negra e indígena, sobretudo nesse ambiente em que estamos hoje, é muito importante para conhecermos, por exemplo, as dificuldades que os estudantes indígenas têm enfrentado na formação em saúde na Universidade. Nosso objetivo é dar mais protagonismo tanto a estudantes quanto a pesquisadores e professores negros e indígenas, bem como às comunidades tradicionais. Esse é o papel e o objetivo do nosso centro, o CIEPNI”, conta Antonio Alberto, Diretor da Faculdade de Medicina da UFBA.Currículos inclusivosEsta primeira atividade faz parte de uma jornada de formação interna do centro dedicada ao compartilhamento de saberes sobre a saúde dos povos indígenas. Na conversa de ontem, várias iniciativas foram propostas para contribuir para a construção de um sistema de saúde justo e acessível para todos os povos indígenas. Entre as iniciativas destacadas, estão a criação de currículos inclusivos, com matérias acerca da medicina indígena, a capacitação de profissionais de saúde e o fortalecimento das parcerias com lideranças e comunidades indígenas.“Esse espaço representa para nós a possibilidade de escuta das comunidades, dos povos originários, os povos indígenas. Representa também a possibilidade de parcerias, intercâmbios de saberes, intercâmbios de experiências e, principalmente, de práticas de cura. A ideia é que possamos aproximar esses saberes, tanto os acadêmicos quanto os que estão nas comunidades, que vêm dos povos indígenas, dos quilombolas, dos ribeirinhos, e poder aproximá-los da Universidade e a Universidade deles também”, conta Ana Angélica Trindade, professora da Faculdade de Medicina e integrante do CIEPNI.A participação das lideranças indígenas, como a pajé Japira Pataxó e Mestre Mayá Pataxó, foi crucial para a troca de experiências e conhecimentos durante o evento. Essas lideranças trouxeram suas perspectivas e vivências, enriquecendo o debate e contribuindo para uma visão mais abrangente dos desafios e soluções possíveis.“Essa conversa foi de grande valia e importância para todos nós que aqui estávamos, indígenas, quilombolas e não indígenas. Foi um aprendizado muito rico para nós hoje à tarde, nesta casa linda e maravilhosa. Isso é muito importante porque há uma grande valia nos conhecimentos das duas formas de tratamento de saúde para nossa gente, tanto indígenas quanto não indígenas. É uma formação linda, maravilhosa e muito forte para nós”, relata Maria Muniz, conhecida como Mestre Mayá, liderança política e religiosa dos povos Pataxó Hã Hã Hãe.Depois da conversa de ontem, o CIEPNI já está definindo seus próximos passos para consolidar as iniciativas discutidas. Além de planejar a ampliação do diálogo com as comunidades indígenas e demais partes interessadas, o centro está comprometido em implementar ações que visam transformar o ambiente acadêmico e a prática da saúde.“Os próximos passos do centro envolvem termos uma reunião mais ampliada, a partir dessa escuta e das demandas que conseguimos identificar hoje, para pensar em formações que vão além das rodas de conversa. Vamos considerar pesquisas, estudos, cartilhas e o diálogo com a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), para ver como podemos ampliar e produzir materiais que cheguem até as comunidades. A partir de agora, é pensar fora da caixa, além de apenas artigos, mas no contexto mais amplo de como colaborar com essas comunidades”, conta Vanessa Pataxó, mestranda do Programa de Saúde, Ambiente e Trabalho na UFBA e integrante do Centro.*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre
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