Criminosos saem das ruas e migram para o mundo digital em Marabá

Nos últimos anos, os crimes de estelionato cresceram significativamente em Marabá, superando os registros de roubos e evidenciando a migração das ações criminosas para o ambiente digital. Golpistas exploram a vulnerabilidade das vítimas, especialmente idosos, utilizando táticas como e-mails falsos, links maliciosos e clonagem de WhatsApp para obter dados e dinheiro de forma ilícita.

Enquanto os roubos apresentam queda, os estelionatos seguem em alta, desafiando as autoridades e exigindo maior conscientização da população. O Correio de Carajás analisou dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (SESP), que indicam que, há dois anos, o número de casos de estelionato supera o de roubos em Marabá.

Em 2023, foram registrados 1.387 roubos, número que caiu para 1.187 em 2024, uma redução de 14%. As regiões com mais ocorrências foram Nova Marabá e Cidade Nova. No mesmo período, os roubos à mão armada passaram de 708 para 561, representando uma queda de 20%. Apenas em outubro de 2023, ocorreram 81 assaltos, enquanto em janeiro de 2024 foram 64.

Por outro lado, os estelionatos — muitos praticados de forma sutil e pela internet — cresceram nos últimos anos. Esses golpes variam em abordagem, mas sempre com o objetivo de enganar vítimas para acessar seus dados pessoais e obter benefícios, geralmente financeiros. Os criminosos utilizam links, e-mails falsos e até a boa-fé de pessoas, sendo os idosos o grupo mais vulnerável.

Em 2023, Marabá registrou 1.685 casos de estelionato, 21% a mais que os roubos no mesmo período. Já em 2024, houve uma leve redução para 1.637 ocorrências, ainda representando 72% dos casos de roubo no ano. Os registros foram feitos tanto na delegacia virtual (1.016 casos) quanto presencialmente na Delegacia de Polícia Civil de Marabá (2.306 casos).

Os núcleos mais afetados pelos golpes foram Nova Marabá e Cidade Nova, seguidos de Amapá, Velha Marabá, São Félix, Belo Horizonte, Morada Nova, Novo Horizonte, Liberdade, São Félix II, Independência e Laranjeiras.

CONTEXTO NACIONAL

Em 2023, mais de 870 mil roubos foram registrados no Brasil. No Pará, esse número chegou a 44.400. No mesmo ano, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mais de 1 milhão de estelionatos foram registrados no estado.

Em entrevista ao Correio de Carajás, o superintendente e delegado Vinícius Cardoso das Neves explicou a diferença entre os crimes e destacou o crescimento expressivo dos golpes virtuais. “O estelionato é muito mais recorrente devido às inúmeras possibilidades de crime virtual, facilitadas pelo acesso à internet”, afirmou o delegado.

Ele ressaltou que os golpes cibernéticos dificultam a identificação dos criminosos, que se aproveitam do anonimato para agir com maior impunidade. Além disso, muitas dessas fraudes são organizadas, utilizando “laranjas” — pessoas que emprestam suas contas bancárias para receber o dinheiro obtido ilegalmente.

O delegado Vinícius Cardoso destaca a importância de registrar a ocorrência para investigar e prender os criminosos

FURTO MEDIANTE FRAUDE X ESTELIONATO ELETRÔNICO

Os dois crimes possuem semelhanças. No furto mediante fraude, a vítima não percebe que está sendo enganada, pois o criminoso age sem que ela entregue voluntariamente seus dados. Já no estelionato eletrônico, a vítima é induzida a fornecer informações sigilosas, como senhas e acessos, por meio de links falsos, ligações ou e-mails fraudulentos.

Devido ao aumento desses crimes, a pena para estelionato eletrônico foi endurecida, variando entre quatro e oito anos de reclusão. O crime de estelionato está previsto no artigo 171 do Código Penal, que pune quem engana outras pessoas para obter vantagem ilícita.

Entre os golpes mais utilizados estão o phishing (envio de e-mails falsos para roubo de dados), o golpe do WhatsApp clonado, o “falso amor” (onde o criminoso finge envolvimento emocional para extorquir dinheiro) e fraudes de investimento, que prometem altos retornos financeiros, mas nunca cumprem.

COMO EVITAR GOLPES?

Algumas medidas podem ajudar a se proteger: nunca forneça seus dados bancários ou senhas por links, ligações ou mensagens suspeitas. Sempre entre em contato diretamente com a instituição.

Mantenha um antivírus atualizado no celular e no computador. Desconfie de promessas fáceis, como investimentos milagrosos ou mensagens pedindo dinheiro. Evite atender ligações de números desconhecidos e nunca clique em links enviados por e-mail ou WhatsApp sem verificar a procedência.

A Inteligência Artificial tem sido usada pelos criminosos para aprimorar golpes, o que tem desafiado ainda mais as investigações policiais.

Os idosos são as principais vítimas dessas fraudes, muitas vezes devido à falta de familiaridade com tecnologia. Um exemplo comum é o golpe da atualização de dados bancários por e-mail, que na realidade só pode ser feita presencialmente no banco. Além disso, muitas vítimas sentem vergonha de denunciar o golpe à polícia, recorrendo apenas à delegacia virtual.

O delegado Vinícius Cardoso alerta que essa atitude prejudica o combate ao crime. “O registro do boletim de ocorrência é fundamental para mapear e investigar os criminosos. Se você foi vítima, denuncie”, pede.

PENAS PREVISTAS

Crimes envolvendo estelionato eletrônico podem levar a prisão de quatro a oito anos de reclusão, roubo simples variam de quatro a dez anos, e roubo com uso de arma de fogo recebem a pena aumentada em 2/3.

O crescimento dos crimes de estelionato em Marabá, evidencia a necessidade da maior conscientização e cautela por parte da população. Com a digitalização dos serviços e o avanço das tecnologias, os golpes estão cada vez mais sofisticados, exigindo atenção redobrada para evitar prejuízos. Além disso, o registro de ocorrências é fundamental para que as autoridades possam combater essas fraudes com mais eficácia.

A segurança digital deve ser uma prioridade, e a informação continua sendo a melhor ferramenta de defesa contra criminosos que se aproveitam da vulnerabilidade das vítimas.

(Milla Andrade)

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