Avião da FAB com brasileiros deportados pelos EUA pousa em Confins

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, por volta das 21h20 desta sexta-feira, 7, trazendo 88 brasileiros deportados pelos Estados Unidos. O voo partiu de Fortaleza na tarde de hoje, onde o avião vindo dos EUA fez uma parada para o desembarque de parte dos deportados e a retirada das algemas utilizadas no voo até o Brasil.Ridelson, que preferiu se identificar apenas com o primeiro nome, contou ao Estadão que foi preso nos Estados Unidos no dia 13 de janeiro, antes mesmo de concluir sua entrada no país. Pelo tratamento recebido no voo de deportação entre Louisiana e Fortaleza, com mãos e pés algemados, o brasileiro relatou indignação.”As pessoas não têm amor, não têm respeito ao ser humano. A coisa que me deixou muito indignado é a questão da gente estar ali, amarrado, algemado, os pés, as mãos… Isso é muito forte. É muito forte, porque não somos bandidos. Cometemos um certo crime, entramos lá ilegal, sim, mas não acho que havia motivo para isso”, disse.Natural de São João Evangelista (MG), o brasileiro relatou que pretende passar “um bom tempo sem comer pão com mortadela”. “Já estou com nojo”, disse, ao comentar sobre a comida servida no voo. Ao chegar ao Brasil, no entanto, ele elogiou o atendimento em Fortaleza. “Minha casa, né? Eu me senti em casa. Fui muito bem recebido”, disse.Esta foi a segunda operação de deportação de brasileiros durante o governo de Donald Trump. O voo com 111 deportados saiu de Luisiana na madrugada pousou em Fortaleza por volta das 16h, onde o avião da FAB aguardava parte dos brasileiros para levar até Minas Gerais. Vinte e três brasileiros ficaram no Ceará.O aeroporto de Confins é destino tradicional dos voos de deportação que chegam dos Estados Unidos, mas a mudança foi feita para encurtar a distância e o tempo que os brasileiros deportados passariam sujeitos a viajar algemados.Há duas semanas, um voo com 88 brasileiros deportados foi marcado por relatos de algemas e correntes, falhas no sistema de ar-condicionado e maus por parte de agentes dos EUA a bordo. O episódio motivou reuniões entre o governo Lula e a Embaixada dos EUA em Brasília.No Aeroporto em Confins, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Macaé Evaristo, afirmou que mulheres e crianças não foram algemadas no voo até Fortaleza. A mudança no tratamento, segundo Macaé, sinaliza uma melhora no atendimento em relação ao governo dos Estados Unidos.Em Belo Horizonte e em Fortaleza, os repatriados foram recebidos por uma ação coordenada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e outras pastas, como Itamaraty e Saúde, para prestar atendimento no serviço migratório, oferecer alimentação e prestar informações sobre serviços essenciais, incluindo procedimentos para matrícula na rede de ensino e regularização vacinal.No aeroporto, além do ônibus para levar os brasileiros ao encontro de seus familiares, o governo brasileiro também disponibilizou um ônibus para o Sesc, onde um centro de acolhimento foi instalado.”O ponto positivo que a gente pode dizer deste momento é que as instituições estão se organizando para esse procedimento de acolhida. Uma organização que a gente não tinha anteriormente, mas desde o voo que tomamos ciência da situação, nós estamos fazendo uma grande mobilização para que a gente possa criar aqui esse posto de acolhimento”, disse a ministra.Um grupo significativo dos brasileiros que desembarcaram em Minas Gerais é da região metropolitana de Belo Horizonte, mas há também pessoas de Governador Valadares e de outros Estados da região Sudeste e Centro-Oeste do País, de acordo com a ministra.’Mudou tudo’Segundo o governo brasileiro, essas duas deportações não têm relação direta com a operação massiva realizada por Trump contra imigrantes ilegais. Os voos fazem parte de um acordo feito em 2017, que segue em vigor.Trump assumiu a Casa Branca com a promessa de realizar “a maior operação de deportação em massa da história”. Em poucos dias no poder, o republicano ordenou várias medidas contra a migração ilegal, entre elas deportações, o envio de milhares de soldados para a fronteira com o México e a prisão de 538 pessoas em situação irregular, segundo a Casa Branca.João Vitor Batistal, de 26 anos, natural de Governador Valadares (MG), relatou mudanças no tratamento de imigrantes detidos logo após a posse de Trump. Segundo ele, a partir de 21 de janeiro, os deportados passaram a ser transferidos constantemente entre unidades de detenção.”A gente já não ficava dois dias num lugar só. Já ia pra outro e outro, e já não tinha mais os direitos básicos que a gente tinha antes”, disse. Ele afirmou que, no governo anterior, ainda era possível solicitar atendimento e conversar com agentes sobre problemas, mas isso mudou com a nova administração. “A partir do dia 21, a gente já não tinha mais direito nenhum de fala.”As transferências constantes também dificultaram o contato com as famílias. João Vitor explicou que, para ter acesso a ligações ou ao uso de tablets, era necessário um período de cadastro na unidade de detenção – algo que não acontecia devido ao curto tempo de permanência em cada local.”A gente ficava muito pouco tempo e não conseguia ter o tempo de fazer esse cadastro”, contou.
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