Lideranças comunitárias que apoiassem Paulinho Freire poderiam receber “plus”

Entre as orientações contidas no documento apreendido na Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), em operação realizada no dia 7 de dezembro de 2024, uma orientava a “trabalhar” as lideranças comunitárias para “seguir as ações do secretário” e, assim, “farão jus a um plus”. Pelo contexto, o “plus” mencionado parece fazer referência ao número de pessoas que cada uma delas teria direito a indicar na Prefeitura de Natal.

As lideranças comunitárias eram o “pessoal de Genildo”, numa referência a Genildo Pereira, assessor do senador Rogério Marinho (PL), que segundo a ação do Ministério Público, “cumpria o papel de articulação e captação de lideranças”, a fim de acertar o apoio delas à candidatura do prefeito eleito Paulinho Freire (União Brasil) e da vice-prefeita Joanna Guerra (Republicanos).

Documento com orientaçãos para cooptar lideranças comunitárias.

As observações também sugerem “evitar mais de uma [pessoa] para lideranças”, mas em seguida completa sobre essa possibilidade do “plus”. O documento também orienta para que os candidatos às vagas sejam entrevistados “para saber se existem familiares já empregados, evitando que uma mesma casa tenha 2 ou 3 pessoas”.

Outra observação contida no documento manda “tomar cuidado com certas situações”, porque “existem os ‘bestinhas’ que pedem para fulano ou sicrano entregarem ao prefeito o currículo”, citando como exemplo o deputado estadual Ubaldo Fernandes (PSDB), que segundo a pessoa que elaborou a planilha “faz isso sempre”.

A observação para tomar cuidado com as pessoas ligadas a Ubaldo Fernandes é reforçada várias vezes no documento. “Verificar se não é ligado ao Ubaldo Fernandes. Ele pediu para algumas pessoas deixarem o currículo na mão de Álvaro”, diz a anotação feita ao lado do nome de cada nome indicado pelo parlamentar.

Jogo duplo de Ubaldo

Essa observação sugere que Ubaldo Fernandes fez uma espécie de jogo duplo nas eleições municipais em Natal, uma vez que, apesar de fazer parte da base de apoio da governadora Fátima Bezerra (PT) e apoiar a candidatura a prefeita da deputada federal Natália Bonavides (PT), ele indicava pessoas para trabalhar na gestão do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos).

Enquanto oficialmente apoiava Natália Bonavides, Ubaldo Fernandes indicava pessoas para trabalhar na gestão do ex-prefeito Álvaro Dias.

O vereador Herbert Sena (PV), ligado a Ubaldo Fernandes, justificou que esteve ausente em algumas atividades da campanha de Natália Bonavides porque estava com um “problema de saúde”, mas disse que “onde podia participar e ajudar” o fez.

Já em relação ao posicionamento que adotaria na Câmara Municipal com a gestão do prefeito eleito Paulinho Freire, Herbert afirmou que era um “vereador de comunidade”, que precisava “dialogar sempre com a Prefeitura de Natal” e nunca teve “postura de ser oposição”.

Diálogo “de compromisso”

A última orientação do documento apreendido na Semtas instruía a “tentar com essas lideranças um diálogo de compromisso”, sugerindo amarrar a vaga de emprego em torca do voto em Paulinho Freire, uma vez que muitas delas alegavam que “o compromisso é só com Álvaro”.

A oferta de empregos em empresas terceirizadas, segundo a investigação do Ministério Público, era uma das estratégias do “esquema” montado pelo ex-prefeito Álvaro Dias para favorecer as candidaturas do prefeito Paulinho Freire, da vice-prefeita Joanna Guerra (Republicanos) e dos vereadores Daniell Rendall (Republicanos) e Irapoã Nóbrega (Republicanos).

Álvaro Dias, segundo o MP, “orquestrou” o esquema para favorecer Paulinho e Joanna. Foto: Republicanos

“Os elementos denotam que Álvaro Costa Dias organizou essa prática através do loteamento das secretarias e dos órgãos municipais para garantir apoio político utilizando a máquina pública para beneficiar as campanhas dos candidatos aliados. Existem ainda evidências de que a gestão municipal ofereceu serviços públicos em troca de apoio eleitoral, explorando lideranças locais para cooptar eleitores”, cita trecho da ação do MP.

O Ministério Público pediu a cassação dos mandatos dos investigados eleitos por abuso de poder político e econômico nas eleições do ano passado, além da inelegibilidade pelo período de oito anos deles e do ex-prefeito Álvaro Dias. A ação também pede que eles sejam condenados ao pagamento de uma multa.

Outro denunciado na ação é o direto técnico Arsban (Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município de Natal), Victor Diógenes, cunhado de Álvaro Dias, que foi gravado em reunião com os servidores comissionados e empregados terceirizados do órgão coagindo os subordinados a manifestarem publicamente o apoio a Paulinho Freire e Joanna Guerra.

Depois da divulgação da gravação pela imprensa, Victor Diógenes foi exonerado “a pedido” da Arsban, no dia 15 de outubro de 2024, mas foi renomeado para o cargo após o segundo turno das eleições. No dia 1º de novembro de 2024.

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