Tocofobia: saiba tudo sobre o pânico de engravidar ou parir

Mesmo tendo usado contraceptivos, às vezes até mais de um tipo, ou até sem ter tido relações sexuais, há mulheres que ficam desesperadas com a possibilidade de estarem grávidas. Isso a ponto de fazer testes (isso mesmo, no plural) para descartar qualquer chance. Enquanto não veem e confirmam que deu negativo, elas perdem o sono, a fome, deixam de viver. Parece ficção, mas acontece na realidade e é um transtorno, conhecido como tocofobia.

O que é tocofobia?

“A tocofobia é um transtorno de ansiedade, mais precisamente uma fobia específica, determinada por um medo irreal de engravidar e do parto”, explica a psiquiatra Andressa Covolan (PR). O distúrbio pode causar ansiedade, pesadelos, dificuldade de dormir e de se alimentar, além de afetar gravemente a vida sexual. Por conta do receio intenso de gestação, as mulheres que sofrem de tocofobia podem criar uma aversão às relações.

É relativamente recente o reconhecimento oficial da tocofobia como um transtorno psiquiátrico. Isso aconteceu em janeiro de 2000, depois da publicação de um estudo da Universidade de Cambridge no periódico científico British Journal of Psychiatry.

A tocofobia pode ser:

  • Primária – Quando atinge mulheres que nunca engravidaram. Geralmente, nesse caso, está ligada a alguma experiência traumática de alguém próximo;
  • Secundária – Quando se manifesta em mulheres gestantes, que sentem um medo exagerado do parto. Pode estar relacionada a uma experiência anterior dolorosa, como parto prematuro, aborto ou violência obstétrica.

“Na tocofobia primária, geralmente, se a paciente não conta o que está sentindo, ela não sabe que tem. Sente apenas um receio de engravidar e, muitas vezes, acaba não tendo filhos por causa disso. Por isso, é mais comum chegar a um diagnóstico quando se trata da tocofobia secundária”, afirma a ginecologista e obstetra Karina Tafner, especialista em Endocrinologia Ginecológica e Reprodução Humana.

Causas da tocofobia

Um dos principais gatilhos para a tocofobia em mulheres que não querem engravidar ou que pretendem adiar a gestação é o fato de que nenhum dos métodos contraceptivos é 100% garantido, embora a maioria seja muito eficaz, segundo Andressa. Outro motivo que potencializa o desenvolvimento do transtorno é quando elas sabem de alguém que engravidou, mesmo com prevenção, ou casos de gestações múltiplas.

“Experiências traumáticas anteriores, informações sobre desfechos negativos em gestações ou partos de pessoas próximas e mulheres que já possuem transtorno de ansiedade também podem ser fatores de risco”, explica.

A forma de retratar a gravidez e, principalmente, o nascimento de um bebê, como uma situação de dor extrema e sofrimento, como acontece muitas vezes em novelas, séries e filmes também podem colaborar para reforçar o medo do parto.

Sinais e sintomas da tocofobia

A gestação exerce mudanças profundas na vida de todas as mulheres, tanto na parte física, quanto hormonal, psicológico e emocional. Sem falar na responsabilidade de gerar, parir e criar um ser humano. É normal ter medo de engravidar e até uma certa ansiedade. Porém, quem sofre de tocofobia tem um receio irracional, totalmente fora de qualquer proporção.

Segundo a psicóloga Elaine Di Sarno, especialista em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica, normalmente, a paciente começa a manifestar alguns sintomas, como ansiedade, ataque de pânico, pesadelo, alteração de sono e de apetite, irritabilidade e impaciência.

“A mulher com pânico irreal de engravidar pode recorrer a pílulas do dia seguinte e múltiplos testes de gravidez, mesmo tendo tido relação sexual protegida”, exemplifica a psiquiatra. “Os sinais físicos podem ocorrer com a sensação de inchaço abdominal, seios doloridos e muita angústia, até que ela tenha a certeza de não estar grávida”, descreve Andressa.

“Na gestação, a mãe com fobia não está em uma aceitação total e isso não é positivo para a mulher e nem para a criança. Ela pode se sentir extremamente culpada por estar com medo”, alerta Elaine.

Como diferenciar medo comum do distúrbio que é a tocofobia?

De acordo com a especialista, o transtorno se caracteriza por um medo disfuncional. “É quando a mulher deixa, por exemplo, de ter outras relações sexuais, sente dificuldade para dormir, para se alimentar, não consegue realizar suas funções no trabalho e começa a ter uma alteração da sua rotina”, explica.

Esse é o momento em que é importante saber que algo está errado e buscar ajuda. “No momento em que se torna algo patológico, impactando no dia a dia, na vida sexual, no relacionamento e na saúde dessas mulheres, é essencial procurar auxílio profissional”, acrescenta Andressa.

Como é feito o diagnóstico da tocofobia?

Quando a própria mulher ou a família e pessoas ao redor desconfiam de que o medo de engravidar é excessivo e que pode caracterizar o transtorno, é fundamental agendar uma consulta com um especialista.

O diagnóstico da tocofobia é feita por meio de uma avaliação psiquiátrica, com anamnese (uma conversa entre médico e paciente, com perguntas específicas, cujas respostas vão ajudar a compor o quadro) e testes psicológicos.

Impacto da tocofobia na gravidez e no parto

Por conta do medo irracional, a tocofobia secundária, ou seja, aquela que afeta mulheres que já estão grávidas, pode levar ao estresse e à ansiedade, que podem prejudicar a gestação. A mãe não vive a fase plenamente, mas vive pensando em tudo o que pode dar errado.

Em alguns casos mais graves, segundo a psiquiatra, a existência da tocofobia pode ser uma indicação de cesariana. “Por isso, é extremamente importante que paciente, psiquiatra e o obstetra estejam em sintonia para avaliar o que será mais seguro e confortável em cada situação”, diz Andressa.

“Se não tratada, [a tocofobia na gravidez] pode levar a um quadro de depressão grave ou psicose puerperal, no qual a criança precisa ser afastada da mãe, ela não pode amamentar e, geralmente, necessita de internação”, alerta a obstetra Karina.

Quais são as opções de tratamento para a tocofobia?

Como a tocofobia é um transtorno que afeta a vida da mulher em diversas camadas, reconhecer, diagnosticar e tratar o problema é fundamental para recuperar a qualidade de vida. “Os tratamentos possíveis são a terapia cognitivo comportamental e, se necessário, fazer uma intervenção medicamentosa”, aponta a psiquiatra.

No entanto, no caso das grávidas, o uso de medicação é algo que precisa ser avaliado cuidadosamente entre psiquiatra e obstetra, pois as gestantes não podem tomar todos os tipos de medicamentos. É necessário avaliar caso a caso!

Andressa também lembra que algumas técnicas, como a meditação, podem ser poderosas aliadas no processo. “As chances de melhora irão depender de cada paciente e da intensidade dos seus sintomas”, pontua a especialista.

Karina destaca, ainda, a importância do apoio da família, principalmente do marido. “É preciso deixar claro que a mulher [com tocofobia secundária] não está rejeitando o filho. As pessoas ainda não acreditam completamente nos transtornos psiquiátricos, mas é preciso, sim, estar atento aos que estão à nossa volta. Alterações na personalidade podem ser um sinal de que é preciso buscar ajuda e dar apoio”, finaliza.

 

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