Violência não pode ser a resposta

editorial

Em 2014, a morte da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, aos 33 anos, na cidade de Guarujá, no litoral paulista, chocou o Brasil e levantou discussões sobre o real significado de justiça. Fabiane foi espancada até a morte por um grupo de populares que afirmava que ela sequestrava e matava crianças para realizar rituais. Posteriormente, as investigações mostraram que os autores do crime acreditaram em uma fake news, que circulava nas redes sociais com um desenho da “sequestradora”, e associaram a imagem à vítima.

O episódio de horror trouxe à tona o debate sobre a desinformação no meio digital, o quanto se pode ser injusto ao tentar “fazer justiça com as próprias mãos” e, ainda, as diferenças entre civilização e barbárie.

Mas, afinal, o quanto aprendemos desde então?

Onze anos depois do brutal assassinato de Fabiane, a Tribuna traz como manchete desta edição o linchamento de um homem até a morte no Bairro Santa Cecília, Zona Sul de Juiz de Fora. Ele foi agredido por populares que acreditaram que suas características coincidiam com a descrição dada por uma criança sobre um homem que teria cometido violência contra ela – caso que deve ser devidamente investigado com garantia de punições, conforme a legislação, num trabalho que é de competência das autoridades.

Em entrevista concedida à repórter da Tribuna de Minas, Pâmela Costa, a delegada responsável pela investigação de homicídio, Camila Miller, alertou, à população, que os linchamentos não são a face da justiça.

Podemos levantar muitos debates sobre o homicídio ocorrido em Juiz de Fora: impunidade, atualização da legislação, segurança na cidade. Mas quando as discussões, de fato, proporcionarão uma mudança em nossa realidade para que episódios de violência não se repitam?

Falhamos quando a sociedade descredibiliza as autoridades ao ponto de se apropriar de uma ideia arbitrária de justiça para punir um crime – ou suposto crime – com violência.

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