Políticos do RN se dividem entre defesa da democracia e de anistia para golpistas

Os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes bolsonaristas inconformados com a derrota nas urnas em 2022 tentaram dar um golpe de estado invadindo as sedes dos Três Poderes em Brasília, completam dois anos nesta quarta-feira (8), mas as reações políticas à data que entrou para a história recente do país ainda são divergentes. De um lado, estão os que defendem a democracia, enquanto do outro há os que pedem anistia para os golpistas.

A divisão é explícita, por exemplo, entre os integrantes da bancada federal do Rio Grande do Norte. Enquanto parlamentares de esquerda condenam os atos violentos protagonizados pelos bolsonaristas, aliados do ex-presidente minimizam os acontecimentos daquele dia negando que tenha havido tentativa de golpe.

A governadora Fátima Bezerra (PT), que participa do “Abraço à Democracia” em Brasília, promovido pelo Palácio do Planalto, em alusão ao 8/1, afirmou que após os atos de violência que assistimos naquela data, “é imperativo que, além das nossas diferenças políticas ou ideológicas, nos unamos pelo amor à pátria, pelo respeito à Constituição e pelo compromisso com a democracia”.

Foto: Ricardo Stuckert

“Nossa democracia, em constante construção, saiu deste teste mais forte e inabalada, mas não podemos baixar a guarda. Precisamos seguir vigilantes, defendendo o que conquistamos e garantindo um futuro onde a paz, a justiça e a liberdade prevaleçam”, declarou a governadora.

Fátima disse que o ato em Brasília servia para deixar claro que o Brasil “não vai recuar”. “O Brasil escolheu o caminho da liberdade e do respeito às instituições. As cenas que vimos naquela tarde infame, de violência e destruição, não representam a essência do nosso povo, mas servem de alerta. Lutamos juntos por um Brasil livre e democrático para todas e todos”, ressaltou.

Mineiro quer que 8/1 vire “dia de defesa da democracia”

Foto: Reprodução Câmara dos Deputados

Em postagem no X, antigo Twitter, o deputado federal Fernando Mineiro (PT) defendeu que a data da tentativa de golpe seja transformada “em um dia de defesa da democracia”, o que é objeto de um projeto de lei apresentado por ele no início da Legislatura de 2023.

“A invasão das sedes dos poderes no 8 de janeiro de 2023 foi o ápice da tentativa de golpe articulada por Bolsonaro, inclusive com planejamento de assassinatos do presidente eleito Lula e seu vice Geraldo Alckmin e do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes”, escreveu o parlamentar, que defendeu que não deve haver anistia para os golpistas.

O plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa os assassinatos de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, foi revelado no âmbito da Operação Contragolpe, deflagrada em 19 de novembro de 2024 pela Polícia Federal.

De acordo com as investigações, o plano que previa o assassinato das referidas autoridades foi impresso no Palácio do Planalto pelo general Mário Fernandes, preso durante a operação, que à época era secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em outro desdobramento da operação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre os atos golpistas de 8/1, determinou a prisão do general da reserva Walter Souza Braga Netto (PL), candidato a vice na chapa derrotada de Bolsonaro em 2022, acusado de ter entregado os recursos para a organização e execução da operação “Punhal Verde e Amarelo”.

Styvenson acha que golpistas foram “massa de manobra”

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O senador Styvenson Valentim (Podemos) informou que não participaria do ato em Brasília porque está com sua família em Natal, mas condenou os atos de 8/1, embora afirme que enxerga “excessos do STF” nas penas aplicadas às pessoas que, na opinião dele, “foram apenas massa de manobra”.

“Foram ferramentas manipuladas pelos que hoje estão soltos, os que financiaram, os que arquitetaram tudo aquilo”, declarou o senador sobre os golpistas que protagonizaram os atos antidemocráticos de 8/1.

Styvenson afirmou, ainda, que considera “uma tremenda covardia, não apenas de quem incentivou, quem motivou, também de quem, por omissão, não alertou, não agiu preventivamente”.

“Esses, sim, deveriam estar presos e sofrer as consequências e sentir o peso da lei. Para que nunca mais atos de vandalismo e violência como aqueles se repitam”, concluiu.

Rogério Marinho insiste em anistia para os golpistas

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Apesar de todas as informações reveladas pelas investigações da Polícia Federal, o senador Rogério Marinho (PL) segue defendendo a anistia para os bolsonaristas golpistas, fazendo inclusive falsas simetrias entre os atos do 8/1 e manifestações de movimentos sociais, como o MST.

O líder da oposição no Senado Federal postou um vídeo editado no X em que compara uma manifestação de 2006 do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), uma dissidência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com os atos terroristas do 8/1.

“Quando sindicalistas e movimentos alinhados ao PT incendiaram ministérios, vandalizaram prédios públicos, feriram pessoas na Praça dos Três Poderes e provocaram até uma morte, essas ações foram minimizadas. Nenhum desses atos foi tratado como uma ameaça à democracia”, escreveu o senador.

No vídeo, além das imagens da manifestação do MLST atribuídas falsamente ao MST, há também cenas de protestos do movimento “Black Blocs” em junho de 2013, que começaram como uma manifestação contra o aumento das tarifas do transporte público, mas evoluíram para atos contra a classe política em geral, tendo como um dos seus alvos a então presidenta Dilma Rousseff (PT).

Ao contrário do que sugere o senador Rogério Marinho, quando afirma que aqueles manifestantes eram “alinhados ao PT”, Dilma classificou as ações do grupo à época como “barbáries antidemocráticas”.

Marinho também insinuou no vídeo que os bolsonaristas condenados pelos atos golpistas são perseguidos pelo Judiciário, principalmente pelo ministro Alexandre de Moraes, a quem acusa de agir em parceria com o presidente Lula.

“Atualmente, quem discorda do governo ou questiona os abusos do Judiciário enfrenta prisão, perseguição e silenciamento, com a aplicação da lei de forma seletiva. A democracia, sob a tutela daqueles que detêm o poder momentaneamente, tornou-se relativa nas mãos de um governo que abraça ditadores e normaliza a corrupção”, escreveu o senador.

O senador também pregou a “resistência” ao que considera “excessos de quem deveria proteger a democracia”. “O Brasil necessita de pacificação e da restauração da normalidade democrática, o que só será possível com uma justiça isenta e igual para todos”, completou.

A reportagem da Agência Saiba Mais procurou os demais integrantes da bancada potiguar, tanto através de suas assessorias como pelas redes sociais, mas não obtivemos retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para quem desejar se manifestar.

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