Na Faixa de Gaza, fiéis participam da Missa do Galo em igreja católica que resiste em meio à guerra contra o Hamas


Em 2024, por motivos de segurança, a missa não foi agendada para noite, como é tradicional. Na Faixa de Gaza, fiéis participaram da Missa do Galo em uma igreja católica que resiste em meio à guerra contra o Hamas.
Não é uma Missa do Galo comum. O padre e os fiéis rezam em árabe – e estão em uma zona de guerra. A Faixa de Gaza, onde acontece a missa natalina, tem cerca de 2 milhões de habitantes; 99% muçulmanos.
O Jornal Nacional perguntou ao padre argentino Gabriel Romanelli, o pároco da única igreja católica de Gaza, quem são as pessoas na missa e que estão abrigadas na instituição.
“Antes da guerra, os cristãos da Faixa de Gaza eram 1.017. Na maioria da Igreja Ortodoxa Grega, mas também 135 católicos e alguns protestantes. Além dos católicos, centenas de ortodoxos vieram morar na nossa igreja, porque a deles foi bombardeada, e morreram 18 pessoas. Também temos muçulmanos, que são crianças e pessoas com deficiência. Aqui, na casa de Jesus, abrigamos agora cerca de 500 pessoas”, conta o padre Gabriel Romanelli.
Quando a atual guerra começou, o padre Romanelli estava em outro território palestino, a Cisjordânia, a cerca de 75 km de Gaza.
“Eu estava em Belém, esperando chegar uns remédios para eu levar para uma freira nossa em Gaza. Mas a encomenda atrasou. Então, avisei que eu chegaria a Gaza no domingo, 8 de outubro, para rezar a missa. Mas aí aconteceu o terrível sábado, 7 de outubro”, lembra Gabriel Romanelli.
Na Faixa de Gaza, fiéis participam da Missa do Galo em igreja católica que resiste em meio à guerra contra o Hamas
Jornal Nacional/ Reprodução
Foi o dia da invasão do território israelense por extremistas palestinos. Houve cerca de 1,2 mil mortos e 240 pessoas levadas como reféns. Israel respondeu – e ainda responde – duramente. O padre Gabriel só conseguiu voltar para Gaza em maio de 2024 e descreve:
“Prédios altos derrubados, carros amassados como latas de refrigerante. E drones o tempo todo, inclusive agora, não sei se dá para ouvir. É muito triste, porque as crianças aprenderam a identificar os ruídos: ‘Esse é um quadricóptero, que dá tiros; esse é um drone que só faz imagens; esse é um helicóptero Apache’. Coisas que ninguém gostaria de saber”, diz Gabriel Romanelli.
Em meio ao caos, os padres e freiras procuram dar condições dignas para quem se abrigou ali. A Igreja da Sagrada Família, de Gaza, faz parte do Patriarcado Latino de Jerusalém, que é semelhante a uma arquidiocese, mas recebe este outro nome, patriarcado, porque fica em uma região de grande importância histórica.
O chanceler da instituição, um padre italiano fluente em português, explica a ação humanitária para levar mantimentos a Gaza.
“Através de uma coordenação muito discreta, da qual não posso falar os detalhes. A gente não somente consegue levar as coisas, mas distribuir as coisas, fazer que as coisas cheguem nas casas das pessoas, aos lugares onde as pessoas estão refugiadas”, afirma Davide Meli, chanceler do Patriarcado de Jerusalém.
Em 2024, por motivos de segurança, a Missa do Galo não foi agendada para noite, como é tradicional.
“Marcamos para as 16h, ao entardecer. É muito inseguro à noite. E também não temos fornecimento de energia. Dependemos dos nossos próprios painéis solares e geradores”, diz Gabriel Romanelli.
Na tarde desta terça-feira (24), a igreja estava cheia de pessoas que procuram manter a fé, mesmo em um contexto tão difícil. E o padre Gabriel, que rezou a Missa do Galo em Gaza, manda uma mensagem aos brasileiros:
“Aproveitem a paz para serem melhores filhos de Deus, melhores seres humanos, e irmãos de todos os seres humanos. Que Deus os abençoe, e que tenham um Natal muito feliz”.
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