‘Arrastadores’: motoristas clandestinos aplicam golpes em passageiros no aeroporto de Guarulhos (SP)

Fantástico acompanhou, por três meses, esquema no maior aeroporto do país e analisou mais de 30 boletins de ocorrência; golpistas multiplicam valor das corridas, ameaçam vítimas e coagem motoristas de aplicativo e taxistas legalizados. Cuidado: motoristas clandestinos aplicam golpes em passageiros no Aeroporto Internacional de São Paulo.
A Polícia Civil investiga falsos motoristas de aplicativos que aplicam golpes na saída do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o mais movimentado do país. Os arrastadores, como são conhecidos, fazem parte de um esquema de extorsão de passageiros, coagidos a pagar até 70 vezes mais pelo valor da corrida. Os criminosos ainda ameaçam as vítimas e acuam motoristas de aplicativo e taxistas legalizados.
O Fantástico acompanhou o esquema durante 3 meses, analisou mais de 30 boletins de ocorrência — nove deles registrados só em 2024 — e teve acesso a imagens exclusivas dos criminosos. O golpe conta também com a atuação de falsos seguranças e de uma mulher responsável por persuadir passageiros estrangeiros.
Segundo a prefeitura de Guarulhos, mais de 120 carros clandestinos foram apreendidos em 2024.
Uma das vítimas relatou que, por uma corrida que habitualmente custa R$ 70, foi cobrada R$ 4.999. Outra disse que um golpista a telefonou dizendo que só liberaria seu filho caso fizesse a transferência do valor exigido pelo transporte, R$ 700.
Imagens obtidas com exclusividade pela reportagem mostram os criminosos agredindo motoristas legalizados que tentam denunciar o esquema. Algumas das brigas envolvem dezenas de pessoas.
O Fantástico teve acesso ainda a um relatório de inteligência da Polícia Rodoviária Federal, de 2021, que já abordava a existência de uma organização criminosa com uma frota irregular de mais de 100 carros. Na época, segundo o relatório, movimentou mais de R$ 3 milhões de reais.
“Esse levantamento aconteceu em decorrência das abordagens que as equipes de ronda fizeram. Os policiais na abordagem perceberam que havia muitas pessoas paradas ali, que alegavam que eram motoristas de aplicativo, só que não estavam logados em plataforma nenhuma e isso começou a ensejar uma série de autuações. Foram constatadas pessoas com porte ilegal de armas, pessoas realizando tráfico de entorpecentes e modus operandi que se repetiam”, disse Flávio Catarucci, porta-voz da PRF-SP.
A Polícia Civil entrará em contato com a PRF para obter detalhes da investigação de 2021. A Gru Airport, concessionária do aeroporto, disse que é uma empresa privada, sem poder de polícia, e que a fiscalização de motoristas é feita por autoridades policiais e pela prefeitura de Guarulhos.
“O golpista perguntou se estávamos esperando por transporte e disse que era motorista de aplicativo credenciado do aeroporto, com um carro pronto para sair. Era um carro chique, eu jamais desconfiaria”, contou Luiz Felipe Gomes, produtor musical de Teresina, vítima do golpe no ano passado. “Assim que chegamos ao nosso destino, ele encerrou a corrida e apareceu um valor de R$542, sendo que éramos para pagar R$ 100. Mesmo que eu tentasse sair do carro, ia ficar sem as malas”.
O nome do arrastador que extorquiu Luiz Felipe Gomes é Geraldo Ferreira Júnior. Um mês depois de dar o golpe no passageiro de Teresina, transportou um turista sérvio por um trajeto semelhante e cobrou R$ 870.
Geraldo Ferreira foi condenado a um ano de prisão por estelionato, mas a pena foi convertida em doação de cestas básicas, já que era réu primário. Imagens obtidas pelo Fantástico mostram que, até o começo de dezembro, ele continuava atuando no aeroporto.
Em nova corrida, acompanhada pela reportagem, o arrastador cobrou R$ 543 por uma corrida até São Miguel Paulista, bairro na Zona Leste de São Paulo, a cerca de 15 quilômetros do aeroporto. Uma viagem que, se feita por táxi, custaria em torno de R$ 70.
Um outro arrastador, Celso Araujo Sampaio de Novais foi flagrado por câmeras do aeroporto coagindo quem questionava o esquema. Recentemente, Celso Novais apareceu no noticiário por outro motivo: foi um dos atingidos por tiros de fuzil durante a execução de Antônio Vinícius Gritzbach, delator do PCC, em São Paulo. Celso morreu em um hospital de Guarulhos, um dia depois do atentado.
A reportagem procurou os suspeitos citados, que não se manifestaram.
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